A formosura desta fresca serra...
1.Soneto inspirado na saudade, «porventura o mais doce, expressivo e delicado termo da nossa língua» — no dizer de Almeida Garrett. As belezas daquela «estranha terra» extasiam o sujeito poético. No entanto, sem a presença da amada, ele sente a maior «tristeza» no meio das maiores «alegrias». Com efeito, estas últimas apenas servirão para o magoar, já que a (re)visão da Natureza fascinante apenas despertará nele recordações da amada, mas, na sua ausência, tudo o que é belo na Natureza o «enoja» e o «aborrece».
2. Há dois momentos que estruturam o poema. Na primeira, correspondente às quadras, faz-se uma descrição da paisagem, em frases nominais e de forma objetiva, fluente e espontânea. Na segunda, formada pelos tercetos, são exteriorizados estados de alma subjetivos (magoar / enojar / aborrecer / passar tristezas).
3. Destaque para os grupos preposicionais do último verso do segundo terceto («nas mores alegrias, mor tristeza...»), em que o primeiro está ligado, quanto ao sentido, às duas quadras e o segundo («mor tristeza») ao primeiro terceto.
4. Visão estática da Natureza (exceção feita ao «manso caminhar» dos ribeiros, ao «esconder do sol», ao «recolher dos gados» e à «branda guerra».
5. A visão intelectualizada da Natureza, conforme o modelo clássico, em que é ressaltada, em primeiro lugar, a caraterística do elemento enunciado, através de um nome ou infinitivo substantivado (a fermosura / a sombra / o caminhar / o som / o esconder / o recolher / a guerra), seguidos da preposição de e quase sempre acompanhados do respetivo modificador.
6. O pronome indefinido "tudo" no primeiro verso do primeiro terceto com que, após a visão analítica da paisagem, se inicia a síntese: a raridade e a variedade da Natureza são os seus dois atributos principais da Natureza que o magoam, caso não veja a amada.
7. Intensificação semântica - o prolongamento da dor e seu aprofundamento evidenciados no último terceto com o recurso à anáfora («sem ti... sem ti»); a antítese («alegrias... tristezas»); o advérbio de modo («perpetuamente»); e do complexo verbal aspetual («estou passando»), a sugerirem o estado permanente de tristeza do eu lírico perante a ausência da mulher amada.
8. Esquema rimático: ABBA / ABBA / CDE / DEC, com rimas interpolada e emparelhada, nas quadras; interpolada e cruzada, nos tercetos; consoante e feminina ou grave, em todo o poema.