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Alegres campos, verdes arvoredos, 

Claras e frescas águas de cristal,

Que em vós os debuxais ao natural, 

Discorrendo da altura dos rochedos; 


Silvestres montes, ásperos penedos, 

Compostos em concerto desigual: 

Sabei que, sem licença do meu mal, 

Já não podeis fazer meus olhos ledos. 


E, pois me já não vedes como vistes, 

Não me alegrem verduras deleitosas 

Nem águas que correndo alegres vêm. 


Semearei em vós lembranças tristes, 

Regando-vos com lágrimas saudosas, 

E nascerão saudades de meu bem. 

1. O Tema - tristeza saudosa de um amor passado, que faz com que a beleza e consequente a alegria da paisagem desapareçam.

2. Estrutura 

2.1. Externa Soneto em verso decassilábico, com rima interpolada e emparelhada nas 3 quadras e interpolada nos tercetos, segundo o esquema rimático ABBA ABBA CDE CDE. 

2.2. Estrutura Interna O soneto estrutura-se em três momentos: 

2.2.1. As quadras, apresentam uma paisagem à qual o poeta se dirige (apóstrofe); 

- nos versos 7 e 8 em que um imperativo  (“sabei") como que interrompe  o pendor descritivo inicial e revela a existência de uma situação de tristeza ("meu mal"); 

2.2.2. O 1º terceto- 2º momento- justifica "pois me já não vedes como vistes"  confirma o 2º momento, revelando uma oposição passado/presente notória nas formas verbais (vedes ≠ vistes); 

2.2.3. Finalmente, no último terceto, exprime-se toda a tristeza saudosa do sujeito, que projeta "semear" as suas "lembranças tristes" naquela paisagem e dela vir a colher as saudades que desveladamente há de regar com lágrimas.  

A natureza no futuro: “E nascerão saudades do meu bem” Rutura provocada pela tristeza (“mal”) do Eu: “já não podeis fazer meus olhos ledos” Confirmação (“E pois me já não vedes como vistes”)  

► Adjetivação abundante e predominantemente anteposta;

 ► Sons fechados e nasais (dor)em alternância com sons abertos; 

► Apóstrofe e animação da natureza; 

 Unidade forma/conteúdo 

- Síntese Relação natureza/Eu: Ao equilíbrio natural (clássico) da paisagem a corresponde a suavidade quase conformada do Eu. A relação entre os dois elementos Natureza/Eu não é de oposição, mas de paralelo, de reflexo, de espelho (como o das águas). Há, no entanto, algum contraste inicial expresso na oposição campos, arvoredos/montes, penedos. 

A interação entre o Eu e a Natureza é evidenciada pela interpelação direta  (“vós”) por parte do poeta. 

A personificação vai mais longe, passando o Eu do ver e do interpelar ao atuar simbolicamente sobre a Natureza, especialmente no último terceto (“semearei…”, “Regando-vos…”. E a Natureza, de certo modo, responde (“E nascerão…”). Verifica-se ainda a presença dos elementos fundamentais: água, terra e luz (cor), em equilíbrio natural. A

 correspondência Eu/Natureza/Eu é total no  terceto final, através da inclusão de um ciclo da terra/Vida num encadeado natural de causa/ consequência: semear, regar, nascer.