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O BARROCO        

Expressão Oral - Tempo de apresentação : 5 minutos

Conteúdo da atividade


- CONTEXTO SOCIOCULTURAL E POLÍTICODO SÉC. XVII/XVIII ;  O BARROCO;  Padre António Vieira

OU

- UMA CRÓNICA, VISÃO

 

 

I     O BARROCO

Arquitetura- manifestação da arte barroca em Braga:

A

1-      Palácio do Raio, pormenor (ex: janela da fachada frontal)

2-      A fonte do Jardim de Santa Bárbara - Rua Eça de Queirós

3-      Igreja do Pópulo – praça Conde de Agrolongo- interior (ex: retábulo barroco)

4-      Igreja de S. Vicente (pormenor de interior, decoração ...)

5-      Mosteiro de Tibães (pormenor de interior – Capela...)

Selecionar um dos temas indicados.                                                                                        

B

Apresentar uma fotografia de um pormenor do monumento barroco selecionado (de Braga) e respetiva descrição.

Fotografia-  breve descrição pessoal a partir da observação do pormenor do monumento, contendo 3 a 5 características.

 

II

Textos

A

Selecionar um texto sobre o barroco/Padre António Vieira  OU uma  crónica  Visão - preparação do texto (vocabulário, leitura, etc...)

 

B

Apresentação oral: Ler um excerto do texto escolhido e responder às questões (3/4). 

·       Sobre o texto selecionado serão apresentadas três/quatro questões:

- Interpretação de uma frase/expressão/recurso estilístico ;

- Identificação de uma função sintática/classes de palavras/sistema verbal (tempos, modos, aspeto e respetivos valores);

- Classificação de orações;

 

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TEXTOS

1

A obra do P.e António Vieira, com destaque para os seus Sermões, sobreviveu à sua morte e tornou-se um caso raro de perenidade influenciadora, própria dos grandes autores clássicos. Numa perspectiva romântica, pode-se afirmar que Vieira se transformou naquilo que podemos designar "valor absoluto, estético-ético" 2. Erigindo-se, sobretudo, como indiscutível mestre da Língua Portuguesa, Vieira aparecia aos olhos de muitos autores da 1ª metade do século XIX, digamos assim, genericamente, como um classicus scriptor, motivo de venerada admiração (in venerationem auctoris). Comprovemos, paulatinamente, esta ideia de Vieira como mestre da cultura oitocentista ao longo dos próximos parágrafos.

1.1. Estatuto de clássico e "auctoritas": A grandeza de um escritor pode-se aquilatar pela recepção literária e cultural que as suas obras alcançam junto dos leitores e escritores coevos e vindouros. A moderna Estética da Recepção sublinhou a importância da leitura que cada época faz da obra de um autor, de acordo com determinados horizontes de expectativas. Sujeita a complexas oscilações de gosto e de sensibilidades literárias, estéticas e culturais, a recepção literária de um escritor atesta a sua grandeza e perenidade e desencadeia, ao mesmo tempo, múltiplas leituras interpretativas, exemplificando assim o lapidar verso de Horácio acerca da imortalidade da obra literária (monumentum aere perenius). Muito simplificadamente, clássico é o que permanece.

Outra relevante característica das grandes obras é a sensação de cativante novidade, mesmo quando o leitor faz leituras repetidas da mesma obra. Como explica Italo Calvino, "reler" um clássico equivale a lê-lo pela primeira vez, tal é o prazer da descoberta proporcionado por cada leitura. Em última análise, um clássico "é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer". Lemos os autores clássicos para concluir a falta que eles nos faziam antes de os conhecer.

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/candid08.htm

TEXTO  2

Na Literatura Portuguesa, a designação e «barroco» para classificar determinada época e determinado estilo tornou-se quase ambígua, em virtude das muitas e desvairadas aceções que à palavra foram atribuídas. De «barroco» sinónimo de bizarro, de «barroco» esquema escolástico de silogismo falso, de «barroco» termo corrente na crítica de artes plásticas, sinal de mau gosto e coisa absurda, passou-se a «barroco», etiqueta histórica e estética, que se dava como equivalente ou palavra substituta de «Seiscentismo».

(...)

O barroco é fruto duma atitude espiritual complexa, carregada de elementos renascentistas, evoluídos ou alterados, atitude que leva o Homem a exprimir-se, na pintura, na arquitetura, na poesia, na oratória e na vida, segundo um modo "sui generis". Este modo concretiza-se na literatura por uma rebusca da perfeição formal, uma aventura de arte pela arte. Na prosa de Seiscentos, os períodos articulam-se em paralelismos e simetrias, em frações sabiamente bimembres ou trimembres, em antíteses (...).

Os limites cronológicos do barroco português podem fixar-se, sem rigidez, entre os anos de 1580 e 1680. (...) A prosa atinge nesta época a sua maioridade. Entramos num mundo novo de ritmo e estruturação da frase, num novo sistema de articulação das palavras na frase e das frases no discurso. A prosa «barroca» é uma prosa artística; possui a maturidade que não alcançara a prosa de Quinhentos. (...)

São barrocas obras como (...) os sermões de Vieira - no seu concetismo e na valorização da palavra como verbo - «logos» e música (...)

Mas o gongorismo não contagiou muitos prosadores seiscentistas, nem o concetismo obscureceu o significado dos seus parágrafos. Foi na poesia que a sombra de Gôngora se agigantou; o gongorismo levou muitos poetas ou pseudo-poetas de Seiscentos a exageros que se generalizaram.

                                                                                                       (Belchior, Maria de Lurdes, DICIONÁRIO DE LITERATURA)

 http://faroldasletras.no.sapo.pt/barroco_textos_teoricos.html

 

TEXTO 3

 

Génese do Estilo Barroco
A saturação dos valores estéticos do Renascimento e a sua transformação

Parece poder concluir-se que nas raízes do estilo barroco está uma transformação dos valores formais do Renascimento através do Maneirismo. (...)

As coisas mais perfeitas, na verdade, desde que não variem, acabam, mais tarde ou mais cedo, por aborrecer. (...)

Por causa disto, os autores de qualquer escola, atingida a saturação, começam a sentir uma certa angústia psicológica e tratam de pesquisar novidades, na ânsia de serem originais e de darem ao público criações de interesse.

É assim que, mesmo inconscientemente, vão fazendo evolucionar os estilos. Geralmente, esta evolução não destrói o essencial; o essencial permanece, mas tão coberto de excessivos adornos que mal pode respirar e mal se enxerga. (...)

Parece que a proporção, a ordem e o equilíbrio dos melhores expoentes da arte acabam, em qualquer idade, por cansar toda a gente.

Em pleno século XVI, muitos literatos, sem romperem de todo com as normas do Classicismo, enveredaram já por um caminho estético mais dinâmico, menos submisso a regras, com maior liberdade de imaginação. A este modo de tratar as letras deu-se o nome de Maneirismo, como vimos.

Os escritores maneiristas mostram predileção especial por temas que acentuam as naturais limitações do homem na terra, a dor e desengano da vida, a fugacidade do tempo. E no seu estilo sobressai o gosto pelas metáforas ousadas, pelas antíteses, pelas agudezas verbais.

No século XVII, meados, esta transformação da estética renascentista prosseguiu e avolumou-se, a ponto de pouco ou nada conservar do Classicismo.

Os escritores de então, embora continuassem a admirar a cultura greco-latina, procuraram, numa ânsia incontida da originalidade, retorcer e exagerar as formas e apresentar aos leitores os assuntos mais inesperados pelos processos mais imprevistos. Daí o aparecimento da rebuscada artificiosidade do cultismo e do labiríntico discorrer do concetismo.

(Barreiros, António José, HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA - I)

http://faroldasletras.no.sapo.pt/barroco_textos_teoricos.html

 

TEXTO 4

Cultismo e Concetismo

Tendência, típica da literatura barroca, para usar e abusar de metáforas cintilantes, requintadas, de hipérboles e de jogos de palavras. Corresponde à sobrecarga ornamental da arte plástica da mesma época (é lembrar as sumptuosas obras de talha das igrejas barrocas) e liga-se estreitamente ao concetismo no amor da agudeza e do chiste, no desejo de surpreender e maravilhar o leitor. O grande modelo seguido pelos nossos poetas cultos ou cultistas é Gôngora. O cultismo dirige-se em parte à imaginação sensorial, em parte à inteligência: Hernâni Cidade distingue entre jogos de palavras, jogos de imagens e jogos de construções (in A POESIA LÍRICA CULTISTA E CONCETISTA, Lisboa, 1938). Quer na poesia quer na prosa se encontram estes processos até meados do séc. XVIII. (...) O próprio Vieira, apesar de, no SERMÃO DA SEXAGÉSIMA, verberar os artifícios gongóricos de certos pregadores, não está completamente isento de jogos de palavras, e utiliza a cada passo construções paralelas, simétricas, desdobrando com virtuosismo os elementos dum contraste.

(...)

Tendência, característica da literatura barroca, para os jogos de conceitos, prova de engenho subtil, não menos estimada em poesia do que em prosa. Já se encontra concetismo no CANCIONEIRO GERAL e nos poetas petrarquizantes de Quinhentos, como Luís de Camões, mas no séc. XVII a tendência intensifica-se e toma aspetos novos, sob a influência dominante de Gôngora e de Quevedo. Embora cultismo e concetismo estejam intimamente unidos, frutos como são da mentalidade barroca, há autores predominantemente concetistas e de clara expressão - clássica, em certo sentido: é o caso do P.e António Vieira. Todavia, o pensar por simetrias e contrastes determina , no plano formal, paralelismos e antíteses; e Vieira é medularmente barroco pela vigorosa exuberância e pelo dinamismo interior que leva a criar artificialmente dificuldades lógicas para depois, com surpreendente agudeza, as resolver.

                                                                                              (Coelho, Jacinto do Prado, DICIONÁRIO DE LITERATURA)

 

Crítica à Poética Cultista e Concetista

Quando vejo um poeta destes, que se serve de expressões que nada significam, ou que compõem de sorte que o não entendem, assento que não quis ser entendido, e, em tal caso, procuro fazer-lhe a vontade, e não o leio. Com esta sorte de homens faço o mesmo que com os labirintos e enigmas, etc., os quais nunca me cansei de decifrar. Eles que o fazem, que se divirtam com isso. Se todos assentassem neste princípio, veria V. P. como se mudava a poesia nestes países; porque seriam obrigados os poetas a lerem somente as suas obras; e, assim, ou se desenganariam eles mesmos com o tempo, ou não enganariam os outros; e poder-se-iam achar poetas de algum merecimento; principalmente se chegassem a conhecer quais são os requisitos necessários para a poesia. A razão destes inconvenientes é porque se persuadem comummente que, para ser poeta, basta saber a medida de quatro versos e saber engenhar conceitos esquisitos. Quem se funda nisto não pode saber nada: são necessárias muitas outras notícias. É necessário doutrina e entender bem as matérias que se tratam; é necessária a Filosofia, e saber conhecer bem as ações dos homens, as suas paixões, o seu carácter, para as saber imitar, excitar e adormecer.. Aqui entra novamente a Retórica, que supõe todas aquelas coisas; entra uma pouca de história, para não dizer parvoíces; entra a história da fábula, etc. Tudo isto se mostra manifestamente nos melhores poemas que temos da Antiguidade. (...) Onde, quem não tem estes fundamentos é versejador, mas não poeta; e necessariamente há-de dizer muita parvoíce.

(Luís António Verney (1713-1791), VERDADEIRO MÉTODO DE ESTUDAR, Carta VII)

 

TEXTO 5 (doi poemas)


 O céu 'strela o azul e tem grandeza.

Este, que teve a fama e à glória tem,

Imperador da língua portuguesa,

Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,

Constelado de forma e de visão,

Surge, prenúncio claro do luar,

El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.

É um dia; e, no céu amplo do desejo,

A madrugada irreal do Quinto Império

Doira as margens do Tejo.

 

Fernando Pessoa, Mensagem

Filho peninsular e tropical

De Inácio de Loiola,

Aluno do Bandarra

E mestre

De Fernando Pessoa,

No Quinto Império que sonhou, sonhava

O homem lusitano

À medida do mundo.

E foi ele o pioneiro.

Original

No ser universal...

Misto de génio, mago e aventureiro.

 

Miguel Torga, Poemas


 

 

O início do Barroco em Portugal é marcado por dois fatos importantes que modificama vida cultural e política do país, a morte de Camões e a de D. Sebastião na batalha de. Alcácer-Quibir na África. Este último evento acarreta a incorporação de Portugal ao domínio espanhol, sob o qual permanece durante 60 anos. Desse modo, o Barroco acontece em meio ao fracasso econômico, estagnação cultural, recrudescimento da inquisição, Sebastianismo e patriotismo, além de uma crise de identidade do povo português que se esforça em preservar sua cultura e sua língua, embora perceba a impossibilidade de ignorar as influências culturais espanholas. Ao mesmo tempo em que recebe forte influência da

Contra-Reforma.

Podemos apontar como principais características do movimento o dualismo: razão e emoção; o medievalismo e renascimento; o conceptismo e cultismo. O principal representante desse movimento foi Padre Antônio Vieira que se dedicou a uma atividade literária bastante diversificada, compreendendo sermões, cartas e obras proféticas.

Considerado o maior prosador barroco, pertence tanto à literatura portuguesa quanto à brasileira, era conceptista e não apenas religioso, mas político e profético. É importante salientar ainda a presença de outros escritores desse momento como D. Francisco Manuel de Melo, os historiadores de Alcobaça, Frei Luís de Sousa, Sóror Mariana Alcoforado


e António José da Silva.


 

http://www.ead.ftc.br/portal/upload/let/4p/02-EstudosdaLiteraturaPortuguesa.pdf

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEXTO 6

Novo adeus português

 

No caso de Miguel Sousa Tavares e Maria João Pires, há um País que lhes reconhece talento e se orgulha do seu prestígio. Se uma parte deste território os ignora e maltrata, é a vida... Parece que o escritor Miguel Sousa Tavares e a pianista Maria João Pires querem emigrar. De vez. Pelo que percebi, há nos argumentos falta de mimo e lamentos sobre o País que temos e os seus atávicos provincianismos. Também insinuam perseguições e outras desilusões. Talvez queiram a fama, sem as amarguras e as invejas dela. E talvez considerem que Portugal é, de facto, um sítio mal frequentado. Sobretudo por portugueses.

Ao longo da História, várias figuras do universo das artes se acharam demasiado talentosos, importantes e decisivos para o futuro do País. O País que os pariu, ignorou-os, amiúde. Quando não os tratou mesmo mal. Saramago está hoje em Lanzarote porque um ajudante de ministro usou o critério mais infame - o gosto - para justificar uma decisão cultural e política. Muitos partiram, em silêncio e escorraçados, em nome da sua arte, inteligência e talento, e obtiveram no estrangeiro o reconhecimento que lhes faltava. Legítimo. E ainda bem.

Acontece, porém, que neste Portugal de emigração dolorosa, forçada e, por vezes, à molhada, esta ameaça recente de um adeus português em versão intelectual cheira a capricho. Parece um adeus porque sim. Ou porque sol. Sobretudo porque sol, cheira-me. Mas embrulhado num lamento e num queixume tipicamente português, claro.

Um compositor albanês cobiçado em várias partes do mundo disse-me um dia, à mesa de um café, em Tirana, que o facto do seu País estar, na prática, em guerra civil, era apenas mais um motivo para não o abandonar. E criticava o escritor Ismail Kadaré, antigo deputado na Assembleia Popular da ditadura de Enver Hoxha, por todos os dias dizer aos albaneses o que deviam ou não fazer, a partir da comodidade e do conforto...de Paris.

Houve quem não tivesse alternativa, noutros tempos.

O País salazarento tratou mal diversas figuras da intelectualidade portuguesa. Muitos exilaram-se. Outros ficaram, sofrendo a bom sofrer nos interrogatórios, nas cadeias, na censura. Outros, ainda, perderam-se pelo caminho, silenciados para sempre.

Sair do País por capricho, feitio ou amuos de momento é tão legítimo como abandoná-lo por motivos mais nobres. Mas a decência pede que se meçam as distâncias. E que se evite a postura, pouco convincente, de mal amados. As comparações, de resto, não resistem a uma análise fria dos factos.

No caso de Miguel Sousa Tavares e Maria João Pires, há um País que lhes reconhece talento e se orgulha do seu prestígio. Sem que nisto se convoquem critérios de gosto para nada. Sempre fizeram e disseram o que lhes deu na realíssima gana. Aqui e ali são ouvidos. Respeitados. Idolatrados, até. Se uma parte deste território os ignora e maltrata, é a vida. Nada que eles não soubessem, já.

Escritor e pianista podem ter muitos e bons argumentos para voar daqui para fora. Mas então aceitem que se lhes diga que isso é, no caso deles, o mais fácil, pois razões de queixa, convenhamos, têm poucas. Pelo menos, se comparadas com aqueles que não têm opção e sentem que dizer adeus é arrancar-lhes um braço.

Partem quase sempre num doloroso e ignorado silêncio. Sem sol, sem palavras, sem uma composição de despedida. Nunca escreverão um livro, nem nunca os veremos a levantar plateias. E mesmo assim, um dia talvez regressem sem um lamento contra este País padrasto a quem devem a sua vida madrasta. Tão silenciados por todos nós como quando partiram.

Visão

TEXTO 7

 

Neste País

 

 

Neste País, prometer raramente significa cumprir. O "prometer" à portuguesa dura o tempo que se demorar a arranjar uma boa desculpa para esquecer –

 

Neste País, há velhos que pagam os medicamentos a prestações como quem se mata devagar. Neste País, nascem hospitais privados onde se fecham maternidades e urgências. Por mera coincidência. Neste País, os alunos rebeldes já têm autoridade sobre os professores e em dias maus até lhes batem. Neste País, há comentadores que só descobrem o fascismo quando este interfere com o fumo do seu cigarro ou o seu umbigo intelectual. Neste País, já há boas famílias na lista de cabazes das câmaras municipais. Não por cunha, mas por fome. Neste País, substituíram-se os valores de uma sociedade pelos valores individuais. Daí a frase "eu tenho os meus valores". Neste País, prometer raramente significa cumprir. O "prometer" à portuguesa dura o tempo que se demorar a arranjar uma boa desculpa para esquecer. Neste País, desertifica-se o interior e instalam-se lá casinos, a ver se isto vai a jogar. Neste País, o líder da oposição promete chegar ao poder e desmantelar o Estado em seis meses. Isto sem reparar que alguém o fará por ele antes que ele sequer tente. Neste País, sinónimo de progresso e modernidade é sair no New York Times por causa do vinho e das pousadas. Ah! E porque o Douro agora é very tipical. Neste País, os bancos taxam-nos a vida a juros altíssimos e comissões fartas enquanto eles financiam a sua vidinha em família. Neste País, o dito socialismo e a dita social-democracia governam desde o 25 de Abril como se o passado não fosse com eles. Neste País, o fascismo não está no Governo, na Economia nem na Justiça. Não estica o braço nem rapa a moleirinha. O fascismo não tem rosto. Conspira nos corredores e gabinetes. Veste Armani e bebe no Lux.  Neste País, há empresas que racionam a água, o papel-higiénico e as palavras dos seus empregados. Neste País, há mulheres que só têm emprego se assinarem contratos onde se comprometem a não engravidar nos próximos 10 anos. Neste País, há empresários e industriais medievais, a pagar salários de terceiro mundo aos trabalhadores com quem comem e contam anedotas, lado a lado e desengravatados, no jantar de Natal da empresa. Antes de anunciar a próxima "reestruturação". Neste País, há entidades e empresas insuspeitas que ouvem todos os nossos telefonemas e lêem todo o nosso correio electrónico. Neste País, a fidelidade tem crédito e a lealdade morreu solteira. Neste País, promove-se o salto à Vara como modalidade olímpica de sobrevivência. Neste País, dá vontade de fugir para o Portugal que só vem no mapa da Imprensa internacional.

 

Visão 17 de Jul de 2009