Os herois de Mensagem, heróis fundadores, com ou sem
existência histórica, funcionam pela força
mítica. São heróis
mitificados.
- O
primeiro é Ulisses.Lendário
fundador de Lisboa.
- Herói
da Odisseia de Homero
Ulisses - definição
do mito
Origem, fundação de
Portugal, nascimento da pátria
Primeira estrofe -
definição de mito, o caráter antitético.
Nada -
jaz oculto, latente Tudo - quando se manifesta.
O
mito é um sol brilhante que "abre",
revela os céus, mas é mudo. É
"o corpo morto de Deus" tornado vivo e revelado.
O
mito é luz que abre caminho para o Todo,
mas ao homem compete a caminhada
predomínio
do presente - definição do mito, algo permanente;
- oxímoro- nada/tudo; em
todo o poema
(Sujeito)
-> (Predicado: verbo ser) -> verbo predicativo);
O mito -> é -> o nada que é
tudo
Uma
vez revelado, passa a ser tudo (tal como o sol, "mito brilhante e
mudo" que, revelado, "passa a corpo morto de Deus / Vivo ou
desnudo").
segunda
estrofe - concretização do mito. Ulisses "Este que aqui aportou”,
particulariza-se após a definição.
Fundação
mítica da cidade (Olissipo> lissipo> lisipo>
lisboa)
-
Situa-se a lenda da fundação de
Lisboa pelo herói grego no contexto do primeiro verso.
A
sua passagem pela costa portuguesa é suficiente para justificar o nome da
cidade e conferir solidez/dignidade à sua origem: "Este, que aqui aportou,
(...) Sem existir nos bastou. (...) E nos criou".
-Ulisses, figura do passado (verbos
no pretérito - aportou - foi - nos bastou - foi vindo - criou), não tendo
existência histórica, bastou enquanto lenda portadora de força vivificante.
- Espírito aventureiro de Ulisses
impulsionador das descobertas.
- destaca-se
o pretérito perfeito na evocação da origem, o ato mítico da fundação da cidade.
relação lenda/mito e realidade
terceira e última estrofe- conclusão "assim", define
as relações da lenda/mito com a realidade. A lenda é o fermento da realidade, o
seu elemento fecundante;
-
A lenda, origem, vem de cima, do alto dos tempos; sem ela, "em
baixo", a vida, "metade de nada, morre".
Notar
a dicotomia ideal - lenda (mito) / real (vida) – de sugestão platónica.
-
passagem do nada ao tudo: da lenda ao
mito. Ao entrar na realidade, fecunda-a , tornando irrelevante a vida cá de
baixo, do mundo real, objetivo: "Em
baixo, a vida, metade / De nada, morre".
-Só
adquire vida aquilo que o mito fecunda;
o processo é intemporal ( tempos verbais de presente).
-
recuperação da importância do presente, porque
a lenda é essencial à realidade, é o cerne da continuidade.
-
-
Estrutura cíclica:
nada (jaz oculto, prestes a
manifestar-se) tudo
( revela-se, vivifica a realidade, a vida) nada tudo...
Mítica é a estrutura da obra.
O dos Castellos
descrição
mítica de Portugal/Europa- personificação
A Europa «jaz, posta nos cotovelos
», «fitando».
Dois traços decorrentes de jazer e fitar, explicitados nas segunda,
terceira e quarta estrofes.
Duas imagens/ideias contraditórias:
-Lassidão/ dormência, transmitida
pelo verbo jazer ;
-meditação/mistério/expectativa,
traduzida pelo verbo fitar.
« olhar esfíngico»
Símbolos
da conjugação do passado com o presente e com o futuro, apontando a importância
de Portugal na construção desse futuro: O
Ocidente, futuro do passado.Descrição: geral particular
continente países
Portugal
•Relevância
de Portugal
Supremacia
de Portugal, destaque na descrição cf situação de Portugal n’Os
Lusíadas “Eis aqui quase cume da cabeça/da Europa toda o reino
lusitano”
•O
olhar encontra-se no rosto = Portugal.
- A importância de Portugal, rosto
da Europa, face visível de tudo o que
ela representa, posta em relevo no final
do poema. A organização descritiva do poema vai-se condensando para se apoiar,
na parte final, no
rosto e no olhar.
- Portugal é o extremo ocidental da
Europa, o rosto que fita o mar ocidental, o seu destino e o seu
futuro.
Visão messiânica e transfiguradora
da história.
• Missão mítica de Portugal. No
segundo verso, embora referida indiretamente, é missão de portugal ligar o Oriente ao Ocidente,
espiritualmente.
A grandeza das descobertas do passado é
exemplo no presente que se projeta no futuro.
•Portugal tem as condições
necessárias para partir em busca de uma
nova Índia, que estará associada ao V Império. É o rosto da Europa.
A
poesia é uma esfinge colossal, construída por Fernando Pessoa e
colocada na portada desta sua obra. Tal como a esfinge de Gizé, foi esculpida
com todo o esmero e cuidado, também esta «fita, com olhar esfíngico e fatal, o futuro do
passado».
Ambas
guardam o seu próprio segredo e os segredos doutras eras. Construídas no tempo,
ambas têm uma imanência extra-temporal e o seu espaço. Isso fica por
conta do enigmático que ambas ostentam e do incógnito que as duas conservam.
Ninguém penetrará na Mensagem sem passar pela entrada.
A
esfinge construída por Fernando Pessoa retrata duas personagens.”
Monteiro, Luís Filipe Barata,
in ACTAS
DO 2º CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTUDOS PESSOANOS, Centro de Estudos Pessoanos,
Porto, 1985
Autorretrato de D. Fernando.
• Marcas de discurso de 1ª pessoa :
pronomes pessoais me (vv. 1,
3, 6, 8), eu (vv. 1,
11) e mim
(v.
10); determinante possessivo minha (vv. 12,
15);
formas verbais na 1ª pessoa do singular: vou (v.
11) e temo (v.
13).
• Herói
sacralizado, eleito por de Deus, instrumento da vontade divina. Cumpre na terra
uma missão transcendente.
• O gládio simboliza o poder
concedido por Deus para que o herói
possa cumprir o destino de Portugal.
• Inspirado pela força divina, o
"eu" é impelido pela "febre de Além" (v.8).
Predestinação
divina do herói, ser depositário de um
destino que se cumpre através dele.
Os
heróis da Mensagem
distinguem-se pela ânsia e pelo sonho, impulsionados pela febre do dever
fazer, de
descobrir, de criar, a que se juntam a coragem, a confiança, por se sentirem cheios de Deus.
Os
três últimos versos do poema exprimem o destemor e a confiança .
•Imbuído do espírito de Deus, o herói lança-se na
ação, empreende uma luta, uma procura incessante.
Nevoeiro
Assunto
Metáfora do Portugal
presente, na decadência e na indefinição, na obscuridade e incerteza. O país mergulha numa crise de
identidade e valores.
Contrariamente
à nação, o sujeito poético inquieta-se, evocando a grandeza do passado.
É chegada a hora de
preparar o futuro, fazer despertar o reino e cumprir a missão pois ao nevoeiro
sucede um novo dia.
1ª estrofe- (mais geral) Portugal em
estado de letargia, indefinição, como um manto de nevoeiro.
“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, / Define
com perfil e ser / Este fulgor baço da terra / Que é Portugal a entristecer –“.
- crise de identidade, tão profunda e sedimentada, que não parece haver nenhuma
mudança capaz de demover Portugal do seu triste estado.
Portugal vive, como um “brilho sem luz”, mas é uma vida triste, sem destino.
Portugal vive, como um “brilho sem luz”, mas é uma vida triste, sem destino.
2ª estrofe- (mais
particular) as almas não sabem o que querem, nem sequer se conhecem,
inevitavelmente precipitando-se num decadente vazio moral. Tal como o país, os
portugueses partilham do mesmo destino, são porções do “Nevoeiro” .
O verso entre parênteses -a meio da segunda estrofe- é o momento de viragem do poema. Embora na essência seja triste, aqui surge a exortação à mudança apesar da negatividade. Corresponde a uma espécie de quebra da negatividade, exortando à mudança, a melhores tempos.
O verso entre parênteses -a meio da segunda estrofe- é o momento de viragem do poema. Embora na essência seja triste, aqui surge a exortação à mudança apesar da negatividade. Corresponde a uma espécie de quebra da negatividade, exortando à mudança, a melhores tempos.
Não é só
Portugal que é nevoeiro, tudo é nevoeiro. Em tudo há mistério e possibilidade
de mudança. Se a indefinição é negativa, é também positiva porque fonte de
todas as mudançasfuturas.
Nesta perspetiva o passado é uma ponte para o futuro.
Nesta perspetiva o passado é uma ponte para o futuro.
1-
Recursos estilísticos mais relevantes:
anáfora, antítese, metáfora, paralelismo, apóstrofe
2-
Os Lusíadas terminam de forma muito diferente da Mensagem
e simultaneamente de forma semelhante.
Camões exorta um rei vivo às conquistas ainda possíveis, embora
adivinhando-se já o fim do Império. Pessoa já não tem Império, por isso a sua
exortação é interior, de caráter espiritual. Semelhante em ambos é a
esperança positiva na mudança – não se trata de um fatalismo triste. Ambos
esperam e acreditam na mudança para melhor. A “apagada e vil tristeza”
de Camões, o “fulgor baço da terra” de Pessoa, são maneiras semelhantes
de caracterizar o presente do país – agora como então. Nos dois casos, há
desapontamento com a realidade, apelando à mudança.
No mais, Musa, no mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.