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O Velho do Restelo                              Inserido na narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde 


No momento da partida de Lisboa, praia do Restelo, para a Índia, uma figura destaca-se da multidão e levanta a voz, condenando a expedição.

Apresentação da personagem (est. 94).

Discurso do Velho do Restelo (est. 95 a 104).

Caracterização

Destaque para a idade (velho), respeitável "aspeito venerando”, a atitude de reprovação/descontentamento , voz solene e percetível;

•O saber resultante da experiência da vida "Cum saber só de experiências feito"; "experto peito”. 
A figura do Velho do Restelo – autoridade, respeitabilidade, bom senso;
Legitimidade para se dirigir aos portugueses sem ser alvo de contestação. 
A autoridade provém da longa experiência de vida. 



Condena a aventura dos descobrimentos, 

"vã cobiça", "vaidade", "fraudulento gosto“. 

Denuncia com veemência a ilusão de heroísmo :Fama ,honra, glória, “com quem se o povo néscio engana". 

Enumera sob a forma de profecias as

consequências negativas da Viagem: os que partem- mortes, perigos, naufrágios, tormentas, dor;


os que ficam-desamparo das famílias, adultério, abandono, dor.



-Apóstrofes"Ó glória de mandar",,                - ritmo ascendente 
-"ó vã cobiça".                                              - gradação crescente 
-"Ó fraudulento gosto”                                   Emotividade


                                                                    - Exclamações 
                                                                    - Interrogações retóricas em enumeração 


Simbologia - dimensão histórica, nacional


O "Velho do Restelo" - uma criação de Camões com significado simbólico.

Representa a corrente de opinião a quem desagradava o projeto dos Descobrimentos, por considerar a criação de um império no Oriente demasiado dispendiosa e de resultados incertos.
•Política de Fixação - A nobreza preferia que a expansão se fizesse pelas conquistas no Norte de África. 

•Política de Expansão - A burguesia defendia a expansão marítima, vendo aí maiores oportunidades comerciais.
Simbologia - dimensão universal

•Aqueles que, em nome do bom senso, recusam a incerteza da aventura. 

•A resistência à mudança, o medo do desconhecido, defendendo o conforto da vida mediana face à promessa de transformação, de riqueza, que se traduz em fatalidade. 

•Eco de uma ideia humanista: a nostalgia da idade de ouro, tempo de paz e tranquilidade, de que o homem se viu afastado e a que pode voltar, reduzindo as suas ambições a uma sábia mediania "aurea mediocritas”. Neste sentido, o episódio pode ser entendido como a manifestação do espírito humanista, favorável à paz e tranquilidade, opondo-se ao espírito guerreiro da Idade Média.

Segunda parte - estrofes 98- 101

Alternativa menos negativa:  direcionar a ambição para um outro objetivo - o Norte de África.
-A estância 99 – argumentação
a anáfora "já que”.
Argumenta de forma ampla e consistente:
-religioso "Se tu pola de Cristo só pelejas?”,
-material "Se terras e riquezas mais desejas?”,
-militar "Se queres por vitórias ser louvado?”.
 Reforça as consequências  nefastas da expansão marítima:
o país à mercê do inimigo,
despovoamento, 
enfraquecimento do reino.
           
-interrogações retóricas
 recurso estilístico dominante.
Terceira parte estrofes 102-104
Símbolos e mitos paradigmáticos:
        ambição, ousadia, desobediência - consequências trágicas.

O primeiro navegador -  ousou enfrentar um elemento alheio (precedente)
Adão- desobediência, arrastou consigo os homens.
Prometeu, "Fogo que o mundo em armas acendeu, / Em mortes, em desonras (grande engano!)".
Faetonte e Ícaro, punidos pela sua ambição.
Ousaram ultrapassar limites, conquistar o que lhes não pertencia.
 Terra/ar/fogo/água
                   A eterna ambição, ânsia desmedida,  inerente à condição humana, desde a origem condena o homem à destruição:
“Nenhum cometimento alto e nefando/Por fogo, ferro, água, calma e frio,/
Deixa intentado a humana gèração./Mísera sorte! Estranha condição!”
Argumentação (cont.)
Exemplos de ambição desmedida e respetivo castigo. Ousaram conquistar elementos alheios, ultrapassando limites. O  homem (bicho da terra) deve confinar-se ao seu elemento natural : terra, caso contrário, sofrera as consequências trágicas da sua ambição.
Este argumento é ilustrado com símbolos e mitos:
O homem                  Ícaro       1º navegador   Prometeu/Faetonte
bicho da terra                   ar                      água                                 fogo
                         - ambição, ousadia, desobediência -     
                            morte, destruição, sofrimento