Resumo
Capítulo I
Já há dois anos que D. João V está casado com D.
Maria e até agora ela ainda não engravidou. A rainha reza novenas e, duas vezes
por semana, recebe o rei nos seus aposentos. Quando ambos se casaram, o rei
dormia com a rainha todos os dias, mas devido ao cobertor de penas que ela
trouxe da Áustria e porque com o passar do tempo, os odores de ambos faziam com
que o cobertor ficasse com um cheiro insuportável, o rei deixou de dormir com a
rainha.
El-rei está a montar em puzzle a Basílica de S.
Pedro de Roma para se distrair e porque gosta. Mas a rainha está á espera do
rei para que ele cumpra o seu dever conjugal. E para os aposentos da rainha o
rei se dirige, mas entretanto chegou ao castelo D. Nuno da Cunha, bispo
inquisidor, e traz consigo um franciscano velho. Afirma o bispo que o frei
António de S. José assegurou que se o rei se dignasse a construir um convento
em Mafra, teria descendência. Enquanto isso, a rainha conversa com a marquesa
de Unhão, rezam jaculatórias e proferem nomes de santos.
Após a saída do bispo e do frei, o rei anuncia-se
e, consumado o acto, D. Maria tem que "guardar o choco", a conselho
dos médicos e murmura orações, pedindo ao menos um filho que seja. D. Maria
sonha com o infante D. Francisco, seu cunhado e dorme em paz, adormecida,
invisível sob a montanha de penas, enquanto os percevejos começam a sair das
fendas, dos refegos, e se deixam cair do alto dossel, assim tornando mais
rápida a viagem. D João também sonhará esta noite, nos seus aposentos. Sonhará
com o filho que poderá advir da promessa da construção do convento de Mafra.
Capítulo II
Se a concepção da rainha ocorresse, seria vista
como mais um entre os vários milagres tradicionalmente relacionados à ordem de
São Francisco. Diz-se, por exemplo, que um tal frei Miguel da Anunciação, mesmo
depois de morto, conservara o seu corpo intacto durante dias, atraindo, desde
então, uma grande quantidade de devotos para a sua igreja. Noutra ocasião, a
imagem de Santo António, que vigiava uma igreja franciscana, locomovera-se até
à janela, onde ladrões tentavam entrar, pregando-lhes assim um grande susto.
Este caíra ao chão, tendo sido socorrido por fiéis, onde acabou por se
recuperar. Outro caso, é o do furto de três lâmpadas de prata do convento de S.
Francisco de Xabregas no qual entraram gatunos pela clarabóia e, passando junto
à capela de Santo António, nada ali roubaram. Entrando na igreja, os frades
deram com ele às escuras, e verificaram que não era o azeite que faltava, mas
as lâmpadas que haviam sido levadas; os religiosos ainda puderam ver as
correntes de onde pendiam as lâmpadas se balançando e saíram em patrulhas pelas
estradas, atrás dos ladrões. E então, desconfiados de que os ladrões pudessem
estar ainda escondidos na igreja, deram a volta, percorreram-na e só então,
viram que no altar de Santo António, rico em prata, nada havia sido mexido. O
frade, inflamado pelo zelo, culpou Santo António por ter deixado ali passar
alguém, sem que nada lhe tirasse, e ir roubar ao altar-mor: O frade deixou que
o Menino "como fiador", até que o santo se dignasse a devolver as
lâmpadas. Dormiram os frades, alguns temerosos que o santo se desforrasse do
insulto... Na manhã seguinte, apareceu na portaria do convento um estudante
que, querendo falar ao prelado (bispo), revelou estarem as lâmpadas no Mosteiro
da Cotovia, dos padres da Companhia de Jesus. Desta forma, faz-nos desconfiar
que o tal estudante, apesar de querer ser padre, fora o autor do furto e que,
arrependido, deixara lá as lâmpadas, por não ter coragem de as devolver
pessoalmente. Voltaram as lâmpadas a S. Francisco de Xabregas, e o responsável
não foi descoberto.
De referir, que o narrador volta ao caso do frei
António de S. José, e faz-nos de novo desconfiar de que o frei, através do
confessor de D. Maria Ana, tinha sabido da gravidez da rainha muito antes do
rei.
Capítulo III
Passado o "Entrudo", como de costume,
durante a Quaresma as ruas encheram-se de gente que fazia cada uma as suas
penitências. Segundo a tradição, a Quaresma era a única época em que as
mulheres podiam percorrer as igrejas sozinhas e assim gozar de uma rara
liberdade que lhes permitia até mesmo encontrarem-se com os seus amantes
secretos. Porém, D. Maria Ana não podia gozar dessas liberdades pois, além de
ser rainha, agora estava grávida. Assim, tendo ido para a cama cedo,
consolou-se em sonhar outra vez com D. Francisco, seu cunhado. Passada a
Quaresma, todas as mulheres retornaram para a reclusão das suas casas.
Capítulo IV
Baltasar regressa a Lisboa, vindo da guerra, onde
perdeu a mão esquerda numa batalha contra Espanha, para decidir a quem
pertencia o trono espanhol. Ao voltar a Lisboa traz consigo os ferros que
mandara fazer para substituir a mão que perdera na guerra. A caminho de Lisboa
Baltasar mata um homem de dois que o tentaram assaltar. Não sabia se ficaria em
Lisboa ou se seguiria para Mafra onde estavam os seus pais, enquanto não se
decide vagueia pelas ruas da capital, onde conhece João Elvas, que também fora
soldado, com quem passa a noite junto de outros mendigos num telheiro abandonado.
Antes de dormirem todos contaram histórias de assassinatos e mortes que
ocorreram na cidade, as quais compararam com mortes que alguns presenciaram na
guerra.
Capítulo V
D. Maria Ana está de luto pela morte do seu irmão
José, imperador da Áustria. Apesar de o rei ter declarado luto, a cidade está
alegre, pois vai haver um auto-de-fé. É domingo e os moradores gostam de ver as
torturas impostas aos condenados. O rei não irá participar na festa mas jantará
na inquisição juntamente com os irmãos, infantes e a rainha. Mesa recheada de
comida, o rei não bebe, dando o exemplo.
Nas ruas o povo furioso grita impropérios aos
condenados e as mulheres nas varandas guincham dizendo que a procissão é uma
serpente enorme. Entre este mar de gente encontra-se Sebastiana Maria de Jesus,
mãe de Blimunda, procurando sua filha. Sebastiana imaginava que Blimunda
estaria também condenada a degredo. Acaba por ver a filha entre as pessoas que
acompanham o auto, mas sabe que ela não poderá falar-lhe, sob pena de
condenação. Blimunda acompanha o padre Bartolomeu Lourenço. Perto dela está um
homem, Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, a quem ela se dirige e cujo nome procura
saber. Voltando a sua casa, Blimunda leva consigo o padre e deixa a porta
aberta para que o recém conhecido também possa entrar. Jantaram... Antes de
sair o padre deitou a bênção em tudo o que cercava o casal. Blimunda convida
Baltasar para que fique morando na sua casa, pelo menos até que ele tivesse que
voltar a Mafra. Deitaram-se, Blimunda era virgem e entrega-se a ele. Com o
sangue escorrido ela desenhou uma cruz no peito de Baltasar. No dia seguinte,
ao acordar, Blimunda, sem abrir os olhos, come um pedaço de pão e promete a
Baltasar que nunca o olharia "por dentro".
Capítulo VI
Este capítulo começa com Baltasar Sete-Sóis a
realçar a importância do pão para os portugueses e o facto dos estrangeiros que
vivem em Portugal estarem fartos de comer pão. Assim eles produziram e
trouxeram dos seus países os seus alimentos e vendiam-nos muito mais caros
sendo difícil aos portugueses comprarem-nos. Depois Baltasar conta a história
caricata de uma frota francesa; quando ela chegou a Portugal, os portugueses
pensavam que vinha invadir o nosso país, afinal tratava-se de um carregamento
de bacalhau.
No decorrer do capítulo Baltasar fala com o padre
Bartolomeu Lourenço, Bartolomeu diz sonhar que um dia conseguirá voar e disse a
Baltasar que o Homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre e um dia
voará. Baltasar dá a sua opinião argumentando que para o homem voar terá que nascer
com asas. O padre Bartolomeu alerta Baltasar para o facto de ser um pecado ele
dormir com Blimunda sem serem casados. Depois Baltasar e Bartolomeu vão para S.
Sebastião da Pedreira para verem a máquina que Bartolomeu inventou para um dia
poder voar e à qual chamou passarola. Quando chegaram, Bartolomeu mostrou o
desenho da passarola a Baltasar explicando-lhe como é que tencionava fazê-Ia
voar. Após a explicação, Bartolomeu pede-lhe para o ajudar na construção da
passarola. Inicialmente Baltasar mostra-se receoso em aceitar a proposta, mas
depois de Bartolomeu dizer que o facto de Baltasar ser maneta não tem
importância, então este aceita o desafio.
Capítulo VII
No início deste capítulo a falta de dinheiro é o
grande obstáculo que Baltasar tem de ultrapassar para começar a construção da
passarola. Então Baltasar começa a trabalhar para ganhar o dinheiro necessário
para poderem realizar o seu sonho, fazer a passarola voar.
No decorrer deste capítulo o narrador relata os
assaltos que os portugueses sofreram durante as suas viagens marítimas. Fala
também sobre a gravidez de D. Maria Ana que teve uma menina, embora D. João
quisesse um rapaz; mas o mais importante é que a menina nasceu saudável. Na
altura do nascimento a seca que durava há oito meses acabou, vindo assim muita
chuva. Mais à frente o narrador narra o baptizado da princesa, a quem chamaram
Maria Xavier Francisca Leonor Bárbara e no fim deste capítulo anuncia a morte
de Frei António de S. José.
Capítulo VIII
Baltasar e Blimunda estão a dormir na sua cama.
Entretanto Blimunda acorda, e estende a mão para o saquitel onde costuma
guardar o pão, mas apenas acha o lugar; então procura por baixo do travesseiro
e no chão, no entanto Baltasar diz-lhe para não procurar mais, porque não irá
encontrar o pão. Blimunda com os olhos fechados, tapando-os com as mãos,
implora a Baltasar para que lhe de o pão, mas este só lhe dará o pão depois de
Blimunda lhe contar que segredos esconde. Esta tenta sair da cama mas Baltasar
não deixa, e acaba por haver um conflito entre eles e ele acaba por lhe dar o
pão. Passados uns breves momentos após Blimunda ter comido o pão virou-se para
Baltasar e diz-lhe: "Eu posso ver as pessoas por dentro, mas só o faço
quando estou em jejum e promete nunca ver Baltasar por dentro. Ele não acredita.
Então ela diz a Baltasar que lhe irá provar, que no dia seguinte quando
acordassem iriam os dois à rua e ele iria atrás para que Blimunda não o pudesse
ver, e Blimunda iria à frente de olhos fechados e que lhe diria o que veria por
dentro das pessoas, o que estaria no interior da terra, por baixo da pele e até
por baixo das roupas, mas tudo isto acabaria quando o quarto da lua mudasse. E
assim foi... Entretanto nasceu o infante D. Pedro, segundo filho dos reis D.
João e D. Maria Ana Josefa.
Capítulo IX
Baltasar e Blimunda mudam-se para a quinta do
Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira, para trabalhar na construção da
máquina de voar do Padre Bartolomeu Lourenço. Apesar de não ter a mão esquerda,
Baltasar tem a ajuda de Blimunda, uma mulher vidente.
El-rei que ainda gosta de brinquedos protege o
padre da Inquisição. Este decide partir para a Holanda, terra de muitos sábios
sobre alquimia e éter, elemento que faz com que os corpos se libertem do peso
da terra.
Nesta altura as freiras de Santa Mónica
manifestam-se contra a ordem de D. João V de que elas só podem falar com
familiares.
O padre abençoou o soldado e a vidente,
despediu-se e partiu, deixando a quinta e a máquina de voar ao cuidado deles.
Antes de partir para Mafra, o par decide não ir ao auto-de-fé e vão assistir às
touradas, que é um bom divertimento. As touradas é como assar o touro em vida,
tortura-se o touro enquanto o público aplaude a mísera morte. Cheira a carne
queimada mas o povo nem nota pois está habituado ao churrasco do auto-de-fé.
Na madrugada seguinte Baltasar e Blimunda partem
para Mafra com uma trouxa e alguma comida.
Capítulo X
Baltasar e Blimunda chegam a Mafra a casa dos
pais de Baltasar, mas só encontram sua mãe em casa; o pai foi trabalhar. Sua
mãe fica chocada por ver seu filho e ver que tinha perdido a mão. Blimunda fica
entre portas a espera que seu marido chame para conhecer a sua nova família.
Ela entra e fica a falar um pouco com sua sogra.
No fim do dia chega o seu pai João Francisco e
conversam sobre o que tinha acontecido na guerra. Blimunda fala um pouco sobre
a sua família e a uma dada altura diz que sua mãe foi degredada porque a tinham
denunciado ao Santo Oficio. O pai de Baltasar fica preocupado, porque pensa que
ela é judia ou cristã nova, mas Baltasar diz ao seu pai que sua sogra tinha
sido degredada por ter visões e ouvir vozes, diz ainda que pretendem ficar em
Mafra e que estão a pensar em comprar casa. Seu pai conta-lhe que vendeu as
terras que tinha na vela, ao rei, porque queria construir um convento de
frades.
João e Sete-Sois foram à salgadeira e tiraram um
bocado de toucinho, que dividiram em quatro tiras e colocaram uma em cada fatia
de pão e distribuíram por todos. Ficam a olhar Blimunda para verem se ela come
a sua fatia, seu pai já podia tirar sua dúvida se ela era ou não judia, mas ela
come-a e assim o sogro fica mais descansado. Baltasar diz a seu pai que precisa
de arranjar um emprego para si e para sua mulher, todos ficaram com dúvidas se
ele conseguiria arranjar trabalho devido à mão.
No outro dia, conheceram a nova parente, Inês e
seu marido que falaram sobre a morte do filho do el-rei e do seu filho que está
doente. Baltasar caminha sobre as terras da vela e relembra os momentos que ali
passou, encontra o seu cunhado e conversa sobre o convento que ali se
construirá, e sobre os frades que irão vir viver para ali. Ao chegar a casa
encontra sua mãe a falar com sua mulher sobre a rainha que agora visita muitas
igrejas e muitos conventos onde reza pelo seu marido que está muito doente. D.
Maria fica em Lisboa a rezar enquanto seu marido se acaba de curar naqueles
campos de Azeitão, onde os franciscanos da Arrábida estão a assistir. O infante
D. Francisco sozinho em Lisboa tenta fazer a corte a sua cunhada deitando
contas à morte do rei. D. Maria diz-lhe que seu marido ainda não morreu e que
não pensa em se casar de novo.
Capítulo XI
O padre Bartolomeu regressou da Holanda, não
sabemos se trouxe ou não os segredos que buscava. Foi à Quinta de S. Sebastião
da Pedreira; três anos inteiros haviam se passado e tudo estava abandonado, o
material que trabalhara disperso pelo chão, "ninguém adivinharia o que ali
andar perpetrando." O padre vê rastos de Baltasar, mas não vê os de
Blimunda e julga que ela morrera.
Depois, parte para Coimbra, não sem antes passar
por Mafra, onde vai ver os homens que iniciam o trabalho do Convento. Procurou
por Baltasar e Blimunda, junto do pároco que informa que os casara em Lisboa.
Blimunda veio abrir a porta e reconheceu-o pelo vulto, quando desmontava.
Beijou-lhe a mão. Marta Maria estranhou que a sua nora fosse abrir a porta a
quem não batesse ainda.
Mais tarde, chegam Baltasar e o pai e aquele, por
convivência com Blimunda, ao ver a mula adivinha tratar-se do padre. Marta
Maria, que já desconfiava ter uma "nascida" (tumor) no ventre,
lamenta nada ter a oferecer ao padre, nem comida, nem abrigo para passar a
noite. O padre Bartolomeu dorme na casa do pároco e, pela madrugada, chegam
Blimunda e Baltasar. Ela sem comer. Bartolomeu ama-os, eles sabem; Baltasar
pergunta se o éter é a alma e o padre diz que não, que é da vontade dos vivos
que ele se compõe. Blimunda espantou-se e o padre pediu que ela o olhasse por
dentro. Ela viu uma nuvem escura, à altura do estômago. Era da vontade,
diferente da alma, o que faria voar a passarola. Bartolomeu montou na mula,
disse que ia a Coimbra e que, quando voltasse a Lisboa, mandaria avisar os dois
para que lá estivessem. Baltasar ofereceu o pão a Blimunda, mas ela pediu,
primeiro, para ver a vontade dos homens que trabalhavam no convento.
Capítulo XII
O filho mais velho de Inês Antónia e Álvaro Diogo
morreu há três meses de bexigas; Álvaro tem a promessa de conseguir emprego na
construção do convento; Marta Maria sofre de dores terríveis no ventre. João
Francisco está infeliz porque o filho partirá novamente para Lisboa, e o
convento dará trabalho a muitos homens. Blimunda foi à missa em jejum e viu que
dentro da hóstia também havia a tal nuvem fechada, vontade dos homens...
O padre Bartolomeu de Gusmão escreve de Coimbra e
diz ter chegado bem, mas agora viera uma nova carta para que seguissem para
Lisboa "tão cedo pudessem". Partiram em dois meses, porque o rei
vinha a Mafra inaugurar a obra do convento. Sete-Sóis e Blimunda conseguiram
lugar na igreja. No dia seguinte formou-se a procissão, o rei apareceu. A pedra
principal foi benzida; foi tanta a pompa que gastaram-se nisso duzentos miI
cruzados. Partiram Baltasar e Blimunda para Lisboa. A mãe Marta Maria
despede-se do filho dizendo que não o tornará a ver. Blimunda e Sete-Sóis
dormem na estrada: Por fim chegaram à quinta onde esperariam o padre voador.
Mal chegaram, choveu.
Capítulo XIII
Os arames e os ferros enferrujaram-se e os panos
da passarola cobrem-se de mofo; o vime, ressequido, destrança-se. Baltasar
experimenta os ferros, tudo perdido, é melhor começar outra vez. Enquanto o
padre não chega, constrói-se a forja, vão a um ferreiro e vêem como se faz o
fole.
Quando Bartolomeu de Gusmão chegou e viu o fole
pronto, peça por peça desenhada e feita por Sete-Sóis, ficou contente e disse;
"Um dia voarão os filhos do homem." Encomendou a Blimunda duas mil
vontades dos homens e mulheres que morreriam a fim de que, junto com âmbar e
imãs, pudessem fazer subir a nau que construíam. O padre distribui tarefas,
indica a Sete-Sóis onde comprar ferro, vime e peles para os foles, pede segredo
absoluto de tudo o que estão a fazer. Trabalham na passarola quase um ano
inteiro, procissões passam em delírio pelas ruas, povo misturado ao clero,
clero misturado aos nobres.
Capítulo XIV
O padre Bartolomeu Lourenço voltou a Coimbra já
doutor em cânones, e agora pode ser visto na casa de uma viúva.
D. João manda vir da Itália o maestro barroco
Domenico Scarlatti, a fim de dar lições de música à sua filha, a infanta D.
Maria Bárbara. Scarlatti e Bartolomeu tornam-se amigos, partilhando as mesmas
ideias e sonhos. Confiante em Scarlatti, o padre leva-o a S. Sebastião da
Pedreira e apresenta os amigos e a passarola a Scarlatti. Blimunda chega da
horta trazendo "brincos de cereja", a fim de brincar com Baltasar.
Quando os viu, o músico pensou: Vénus e Vulcano... O padre diz a Scarlatti que
ele e Baltasar têm ambos 35 anos e que não poderiam ser pai e filho. Mas
poderiam ser irmãos, portanto, desde o começo da história, o tempo que se
passou pode ser contado, nove anos. Mostrada a passarola por dentro, retira-se
Scarlatti, mas promete voltar e trazer o cravo, que tocará enquanto Blimunda e
Baltasar trabalham. O padre lá permaneceu, onde treinou o seu sermão para que
os dois ouvissem. Discutem sobre Deus uno, trino. Blimunda adormeceu com a
cabeça apoiada no ombro de Baltasar. Um pouco mais tarde ele levou-a para
dormir. O padre saiu para o pátio, e toda a noite ali permaneceu, tomado por
tentações.
Capítulo XV
Scarlatti voltou muitas vezes à quinta e pedia
que não parassem o trabalho; ali, em meio aos ruídos e grandes barulhos,
confusão, tocava o cravo.
Há um surto de varíola em Lisboa, oriundo de uma
nau vinda do Brasil. O padre pede à Blimunda que vá à cidade e recolha as
vontades das pessoas. É assim que ela, em jejum, durante um dia inteiro se põe
a recolher tais vontades. Um mês depois, são mais de mil vontades presas ao
frasco em que Blimunda as recolhia. E quando a epidemia terminou, ela tinha
aprisionado duas mil vontades. Foi então que caiu doente. Nada a curava da
extrema magreza; mas um dia, Scarlatti pôs-se a tocar e ela abriu os olhos e
chorou. O maestro veio, então, todos os dias, quer fizesse chuva ou sol; e a
saúde de Blimunda voltou depressa.
Um dia, Baltasar e Blimunda vão a Lisboa e
encontram Bartolomeu doente, magro e pálido. Parecia ter medo de algo.
Capítulo XVI
Neste capítulo, comenta-se fortemente a
governação do reino, criticando a maneira de se fazer justiça, onde o poder e a
riqueza se sobrepõem sempre àqueles que nada têm nem podem... Até mesmo o destino,
se calhar, foi injusto ao deixar morrer afogado o Infante D. Miguel, poupando a
vida ao seu irmão o Infante D. Francisco.
Entretanto, criada pelo Padre Bartolomeu
Lourenço, a passarola, a máquina de voar, está pronta. Em S. Sebastião da
Pedreira, Baltasar e Blimunda, têm de deixar a quinta que foi perdida por
El-rei para o Duque de Aveiro. O Padre Bartolomeu Lourenço, aguarda a vinda de
El-rei para provar a máquina e quer dividir a glória e a fama do seu invento
com Blimunda e Baltasar. Porém o Padre anda agitado e receoso de que o acusem
de feiticeiro e judeu, embora conte com o apoio de El-rei.
O tempo passa, El-rei não chega; já é Outono e a
máquina necessita de sol para se erguer do chão! Certo dia, eis que o Padre
Bartolomeu Lourenço chega pálido e assustado dizendo que tinha de fugir, pois o
Santo Ofício já andava à sua procura para o prender! Apontou a passarola e
disse que iriam fugir nela! Depois de preparada pedem ajuda ao Anjo Custódio
para aquela "viagem"... e partiram pelos ares sacudidos pelos ventos
até onde o destino os quis levar. Passam por momentos de medo, euforia,
deslumbramento e felicidade, considerando-se loucos. Lá do alto avistam Lisboa,
o Terreiro do Paço, as ruas, etc... Nesta altura procuram o padre para o
prender e percebem que este fugiu. A noite chega, sem sol a máquina começa a
perder altitude... Estão assustados. O Padre Bartolomeu Lourenço, resignado,
espera o fim mas Blimunda como que inspirada, consegue controlar a máquina com
a ajuda de Baltasar e evitam o pior. Uma vez em terra firme, deixam-se
escorregar para fora e consideram um milagre terem-se salvo sem qualquer
ferimento.
Não sabem onde estão. O Padre acha que vão
encontrá-los e que morrerão. Blimunda e Baltasar, confiantes, acreditam que se
se salvaram daquele perigo, salvar-se-ão dos próximos, e estão prontos para
fazer a máquina voar no dia seguinte. Cansados e depois de comerem algo,
adormecem, Blimunda e Baltasar. O Padre está doente, tenta pegar lume na
passarola mas os dois não o permitem. Afasta-se para umas moitas e nunca mais é
visto. Baltasar vai procurá-lo, mas em vão. Cobriram a máquina de ramos e
folhas para impedi-la de voar. Na manhã seguinte, desceram pelo mesmo sítio
onde o Padre desaparecera sem deixar rasto, mas nem sombra dele. E lá partiram
os dois. Ao fim de dois dias chegam a Mafra, onde havia uma Procissão na rua
que dava graças a Deus por haver mandado voar sobre as obras da Basílica o seu
Espírito Santo!...
Capítulo XVII
Numa altura em que se passam tantos prodígios,
Blimunda e Sete-Sóis têm que guardar segredo porque se assim não fosse algo
lhes aconteceria. Na casa dos pais de Baltasar, o par estava infeliz pela perda
da mãe, mas Inês Antónia contou-lhes maravilhada os benefícios do Espírito
Santo. No dia seguinte Baltasar saiu de casa com o cunhado à procura de emprego
na obra de construção do convento.
A Mafra chegaram notícias que tinha ocorrido um
pequeno terramoto em Lisboa derrubando beirais e chaminés. Passados mais de
dois meses, Baltasar e Blimunda foram viver para Mafra. Baltasar fez uma
jornada e foi ver que a máquina de voar estava no mesmo sítio, na mesma
posição, descaída para um lado e apoiada na asa debaixo de uma cobertura de
ramagens já secas. Dois meses mais tarde, Blimunda vem esperá-lo ao caminho e
conta-lhe que Scarlatti está na casa do Visconde. Scarlatti tinha feito um
pedido ao rei para poder visitar as obras do convento e o Visconde hospedara-o,
apesar de não gostar de música.
Scarlatti disse a Baltasar que o padre Bartolomeu
teria morrido em Toledo para onde tinha fugido e como não falavam de Baltasar
nem Blimunda resolveu vir a Mafra verificar se estavam vivos. Nessa noite
soube-se que quando a máquina caiu o padre havia fugido e nunca mais voltara.
No dia seguinte Scarlatti partiu para Lisboa.
Capítulo XVIII
D. João V estava sentado numa cadeira escrevendo
os seus bens e riquezas no rol. El-rei meditou acerca do que iria fazer às tão
grandes somas de dinheiro, chegando à conclusão que a alma seria a primeira
atenção, mandando construir o convento de Mafra, pagando com o ouro das suas
minas e fazendas. Todos os materiais utilizados no convento eram de qualidade.
De Portugal a pedra, o tijolo e a lenha para queimar, o arquitecto alemão,
italianos mestres dos carpinteiros e da Holanda os sinos e os carrilhões. O convento
levou 8 anos a ser construído.
Blimunda, Inês Antónia, Álvaro Diogo e o filho
esperavam Baltasar, para jantarem com o velho João Francisco que mal mexe as
suas pernas. Acabado o jantar Álvaro Diogo dorme a sesta. Baltasar bebe desde
que soube da morte do padre Bartolomeu Lourenço e da sua passarola, foi um
choque muito grande. Baltasar e seus amigos conversam acerca das suas vidas e
falam de como eram as suas vidas antes de trabalharem em Mafra. Baltasar tem 40
anos, sua mãe já morreu e seu pai mal pode andar. Esteve na guerra e aí perdeu
a sua mão, voltando a Mafra mais tarde. Sete Sois comenta que nem sabe se
perdeu a sua mão na guerra ou se foi o Sol que a queimou, porque afirma que
subiu uma serra tão alta que quando estendeu a mão tocou no Sol e queimou-o.
Seus colegas comentaram que era impossível visto que só tocaria no Sol 'Se
voasse como os pássaros, ou então seria bruxo. Baltasar nega dizendo que não é
bruxo e também diz que ninguém o ouviu dizer que voou.
Capítulo IXX
Durante muito tempo Baltasar puxou e empurrou
carros de mão e um dia, com a ajuda de João Pequeno, puxou uma junta de bois,
fazendo companhia ao seu amigo corcunda.
Houve notícia que era preciso ir a Pêro Pinheiro
buscar uma pedra muito grande que lá estava. Construíram lá um carro para
carregar a pedra, como se fosse uma nau da Índia com calhas. Foram para lá 400
bois e mais de vinte carros. Ao amanhecer os homens partiram para cumprir 3
léguas até onde estava a pedra. Diziam que nunca tinham visto uma coisa como
aquelas. Escavaram junto à pedra de forma a levá-la inteira para Mafra. A pedra
vinha puxada a braços e Baltasar viu, num átimo de segundo, sangue e viu que um
dos homens se ferira. No primeiro dia não andaram mais de 500 passos. No
segundo dia foi pior porque o caminho era a descer e foi preciso meter calços
nos carros. Um homem chamado Francisco Marques morreu atropelado por um carro,
a roda passou-lhe sobre o ventre, quando chegou ao fundo do vale, o carro que
transportava a pedra desandou atingindo 2 animais, a seguir tiveram que os
matar. Gastaram 8 dias entre Pêro Pinheiro e Mafra, quando chegaram parecia que
tinham vindo da guerra, vinham sujos e esfarrapados. Todos se admiraram com o
tamanho da pedra.
Capítulo XX
Era a sexta ou sétima vez que Baltasar se
deslocava a Monte Junto para consertar a máquina que se ia destruindo com o
tempo. Mesmo protegida por mato e silvado, as lâminas da máquina voadora
ficavam enferrujadas. Baltasar aproveitava a viagem para colher vimes, que
serviam para consertar os rasgões que encontrava no entrançado da máquina.
Chegou o dia em que Blimunda decidiu acompanhar
Baltasar na viagem. Justificando-se que gostaria de conhecer o percurso para o
caso de necessitar deslocar-se até ao local sozinha poder fazê-lo sem
problemas. Puseram-se a caminho depois das despedidas, com o burro que Baltasar
arranjara para os ajudar na longa viagem que tinham pela frente. Foram passando
pelas vilas que Blimunda ia decorando, até chegarem ao destino.
Durante o dia tentaram consertar a máquina até ao
pôr-do-sol. Passaram a noite na passarola e voltaram no dia seguinte a Mafra.
Mesmo depois da longa viagem ainda não tinham
passado pelo pior, pois foi à hora do jantar, quando todos se juntaram, que
morreu o pai de Baltasar, João Francisco.
Capítulo XXI
D. João V queria construir uma basílica de S.
Pedro em Lisboa, mas o arquitecto de Mafra, que foi chamado pelo rei, João
Frederico Ludwig, aconselhou-o a não construir a basílica, porque demorava
muito tempo a construir e D. João V poderia já não estar vivo quando acontecesse
a inauguração desta. Então o rei decidiu aumentar o convento de Mafra de
oitenta para trezentos frades, e assim foi, foram chamados o tesoureiro, o
mestre dos carpinteiros, o mestre dos alvenéus, o abegão-mor e o engenheiro das
minas. Então começaram as obras, mas depois o rei decidiu que a inauguração do
novo convento seria no dia dos seus anos, que calhava num domingo, daí a dois
anos; após essa data, o seu próximo dia de anos, que calhasse num domingo só
seria daí dez anos e poderia ser muito tarde. Como dois anos seria pouco tempo
para a construção do novo convento, D. João V mandou os seus homens irem buscar
outros homens a todas as partes do país; estes eram recrutados contra a sua
vontade, como escravos, indo assim trabalhar para as obras do convento, para
este estar pronto a tempo. Alguns destes homens chegaram até a morrer com fome
e perdidos a tentar voltar para casa.
Capítulo XXII
Este capítulo versa essencialmente sobre as
famílias reais portuguesa e espanhola. Desde muito cedo foram organizados
casamentos entre as duas como os que agora se vão realizar, o de Maria Vitória,
espanhola, que casou com o português José e o de Maria Bárbara, portuguesa, com
o espanhol Fernando.
Maria Bárbara tem 17 anos, não é formosa nem
bonita mas é boa rapariga. No decorrer do capítulo apercebemo-nos que iremos
assistir ao percurso de Maria Bárbara e da família real até Espanha, onde ela e
vai casar. Durante a viagem, a comitiva real passa por várias cidades
portuguesas e depara-se com alguns problemas, principalmente os meteorológicos,
visto a chuva tornar os caminhos muito complicados para passar.
Também podemos referir a construção de várias
propriedades reais para que se pudessem acolher durante a viagem.
É de salientar que Maria Bárbara vai para Espanha
sem nunca ter visitado o convento de Mafra que estava a ser construído em sua
honra (por causa do seu nascimento).
Capítulo XXIII
De Portugal todo chegam homens e são escolhidos
um por um. A infanta Maria Bárbara casa-se com Fernando de Espanha. Esta é a marca
do tempo narrativo de Saramago, ou seja os factos históricos. O noivo é dois
anos mais novo que a noiva, e ele nunca poderá vir a ser rei, porque este é o
sexto na linha sucessória. Domenico Scarlatti toca no seu cravo para a multidão
de ignorantes, por ocasião do casamento da Infanta Dona Maria Bárbara, na
fronteira com a Espanha.
Aqui, neste capítulo, o narrador menciona a
procissão que levará os santos para serem colocados nos altares do convento de
Mafra: S. Francisco, Santa Teresa, Santa Clara, S. Vicente, S. Sebastião e
Santa Isabel. Seguem também para Mafra frei Manuel da Cruz e os seus noviços;
trinta, e ali, quando chegam cansados, são recebidos em triunfo.
Baltasar vai para casa, o narrador anuncia-nos
que ele está muito debilitado. Depois já ceia, quando todos dormem, Baltasar
pega em Blimunda e leva-a a ver as estátuas, juntos, vêem a lua nascer enorme e
vermelha. Ele anuncia-lhe que vai ao Monte Junto na manhã seguinte, ver como
está a passarola. Ela pede-lhe para ter cuidado e ele responde que ela fique
sossegada, que o seu dia ainda não chegou. Olham os santos inertes, o que seria
aquilo? Morte, santidade ou condenação? Quando amanheceu, Blimunda levantou-se
e juntou comida para o farnel do marido que ia ao Monte e acompanhou-o até fora
da vila: "Adeus Blimunda, Adeus Baltasar", e separaram-se. Ao chegar
ao lugar onde estava a passarola, Baltasar come as sardinhas que Blimunda lhe
tinha colocado no alforge: havia tanto trabalho a fazer...
Capítulo XXIV
Baltazar não voltou para casa, o que fez Blimunda
não dormir aquela noite. Esperara que ele voltasse ao cair do dia, haveria os
festejos da sagração da basílica, mas ele não voltara. Em jejum, olhando as
pessoas que passavam para a festa, estava sentada numa vala e ali ficou, vendo
o que os que passavam carregavam por dentro; recebendo insultos, dizendo
outros. Voltou para casa, ceou com os cunhados e o sobrinho. Não conseguiu
dormir.
Não verá o rei quando ele vier a Mafra, vai
esperar Baltazar pelos caminhos, desesperadamente tentando encontrá-lo, chegou
até ao Monte Junto e encontra o alforge mas nem sinal de Baltasar nem da
passarola, chora sem saber se ele morreu ou vive. Encontra um frade que tenta
violá-la e mata-o com o espigão de Baltazar. Parte em busca do seu amado.
Voltou a Mafra pensando que se tinham desencontrado, mas ele não estava lá.
À tardinha, chegaram Inês António e Álvaro Diogo
e encontraram-na a dormir. De manhã, ela esquece-se de comer o pão e vê-os por
dentro.
D. João V faz quarenta e um anos e é 22 de
Outubro de 1730. Inaugura-se o convento.
Capítulo XXV
Durante nove anos, Blimunda andou pelos caminhos
sempre à procura de Baltazar que sabia estar. Perguntou por ele em todo o lado.
Julgavam-na doida, mas ouvindo-lhe as demais
sensatas palavras e acções, ficavam indecisos se aquilo que dizia era ou não
falta de juízo completo. Passou a ser chamada de A Voadora, e sentava-se,
então, às portas, ouvindo as queixas das mulheres que lamentavam, depois, que
os seus homens não tivessem também desaparecido, para que elas pudessem, ao
menos, devotar-lhes um amor tão grande como o de Blimunda a Baltazar. E os
homens, quando ela partia, ficavam tristes inexplicavelmente tristes.
Voltava aos lugares por onde passara, sempre
perguntando. Seis vezes passara por Lisboa, esta, a que vinha agora, era a
sétima. Sem comer, o tempo era chegado para ela. No Rossio, finalmente
encontrou Baltazar. Havia lá um auto-de-fé. Eram onze os condenados à fogueira;
entre eles, estava António José da Silva, o Judeu, comediógrafo autor das
Guerras de Alecrim e Manjerona e Baltasar, ela olhou-o, recolheu a sua vontade,
porque ele lhe pertencia.
Memorial
As Transgressões na obra
Transgressão do código religioso
- Sumptuosidade
do convento (pp.365-6) vs a simplicidade e a humildade (essência dos
valores cristãos);
- Recrutamento
à força;
- Construção
da passarola vs a proibição de ascender a um plano superior/divino (p.
198) - 4 bases de solidez do projecto: Bartolomeu, Baltasar, Blimunda e
Scarlatti;
- A
castidade vs as relações sexuais nos conventos (pp. 95,97);
- As estátuas
dos santos (p. 344) vs a santidade humana (p. 342);
- Missa,
espaço de vivência espiritual (p. 145) vs missa, espaço de namoros e de
encontros clandestinos (pp. 43, 162, 236);
- A benção
de Deus vs a benção dos homens;
- Funeral
do Infante D. Pedro, espectáculo de pompa e circunstância vs funeral do
sobrinho de Baltasar, manifestação isolada de dor.
Transgressão do código sexual
- Sexo
ritual protocolar para procriação (pp. 11-13, 319-20) vs sexo, entrega
permanente e mútua de corpos e almas (p. 77 e outras).
Transgressão linguística
- Inversão
de expressões bíblicas;
- Jogos de
palavras "os santos no oratório... não há melhor";
- Desconstrução
e reconstrução das regras de pontuação;
- Aforismos
"Não está o homem livre... com a verdade";
- Confluência
de registos de língua:
- Popular
"Queres tu dizer na tua que a merda é dinheiro, Não, majestade, é o
dinheiro que é merda";
- Familiar
"correram o reino de ponta a ponta e não os apanharam";
- Cuidado
"Tirando as expressões enfáticas esta mesma ordem já fora dada antes
(...)".
Transgressão ficcional
- A Música
vence a Doença;
- A
história vence a História;
- O espaço
da ficção é o espaço da Utopia, da Liberdade Suprema;
- O Sonho
é a Transcendência Humana.
Espaço
Evocação de dois espaços principais determinantes
no desenrolar da acção: Mafra e Lisboa.
Mafra: passa da vila velha e do antigo
castelo nas proximidades da Igreja de Santo André para a vila nova em cujas
imediações se vai construir o convento. A vila nova cria-se justamente por
causa da construção do convento.
Lisboa: descrevem-se vários espaços dos
quais se destacam o Terreiro do Paço, o Rossio e S. Sebastião da Pedreira.
Portugal beneficiava da riqueza proveniente do
ouro do Brasil. D. João V em decreto de 26 de Novembro de 1711 autorizou que se
fundasse, na vila de Mafra, um convento dedicado a Santo António e pertencente
à Província dos Capuchos Arrábidos.
Ludwig, arquitecto alemão, estava em Lisboa, em
1700, contratado como decorador-ourives, pelos Jesuítas. Foi a ele que
entregaram o projecto do Mosteiro, destinado a albergar 300 frades. A traça do
edifício terá sido executada por volta de 1714-1715 ao passo que a igreja,
avançada ate ao zimbório, foi sagrada em 1730. Outras dependências foram
construídas para além da igreja: portaria, refeitório, enfermaria, cozinha,
claustros, biblioteca.
Terreiro do Paço: local onde primeiramente
trabalha Baltasar na sua chegada a Lisboa, descrição pormenorizada e sugestiva
da procissão do Corpo de Deus, em Junho. É um espaço fulgurante de vida, com
grande importância no contexto da sociedade lisboeta da época.
Rossio: surge no início da obra,
relacionado com o auto-de-fé que aí se realiza. A reconstituição do auto-de-fé
é fidedigna, a cerimónia tinha por base as sentenças proferidas pelo Tribunal
do Santo Ofício e nela figuravam não só reconciliados, mas também relaxados,
aqueles que eram entregues à justiça secular para a execução da pena de morte.
O dia da publicação do auto era festivo, segundo se pode constatar das defesas
efectuadas. A procissão propriamente dita saía na manhã de domingo da sede do
Santo Ofício e percorria a cidade de Lisboa antes de chegar ao local da leitura
das sentenças, numa das praças centrais. À frente seguiam os frades de S.
Domingos com o pendão da Inquisição. Atrás destes os penitentes por ordem de
gravidade das culpas, cada um ladeado por dois guardas. Depois, os condenados à
morte, acompanhados por frades, seguidos das estátuas dos que iam ser queimados
em efígie. Finalmente os altos dignitários da Inquisição, precedendo o
Inquisidor-Geral. A sorte dos réus vinha estampada nos sambenitos (hábito em
forma de saco, de baeta amarela e vermelha que se vestia aos penitentes dos
autos-de-fé) para que a compacta multidão que se aglomerava soubesse o destino
dos condenados.
S. Sebastião da Pedreira: local mágico ao
qual só acedem o padre, Bartolomeu Lourenço, o Voador, Baltasar e Blimunda. É
lá que se encontra a máquina voadora que está a ser construída em simultâneo
com o Convento de Mafra. A passarola insere-se na narrativa como um mito, do
qual o homem depende para viver, mito proibido mas que se evidenciará e se
deixará ver pelo voo espectacular que se realizará, mostrando que ao homem nada
é impossível e que a vida é uma grande aventura. S. Sebastião da Pedreira era,
àquele tempo, um espaço rural, onde não faltavam fontes, terras de olival,
burros, noras, e onde se situava a quinta abandonada. Ali irão as personagens,
variadíssimas vezes e pelas razões mais diversas.
Personagens
D. João V: proclamado rei a 1 de Janeiro
de 1707, casou, no ano seguinte, com a princesa Maria Ana de Aústria e vive um
dos mais longos reinados da nossa história. Surge na obra só pela sua promessa
de erguer um convento se tivesse um filho varão do seu casamento. O casal real
cumpre, no início da obra, com artificialismo, os rituais de acasalamento. O
autor escreverá o memorial para resgatar o papel dos oprimidos que o
construíram. Rei e rainha são representantes do poder, da ordem e da repressão
absolutista.
Baltasar e Blimunda: são o casal que,
simbolicamente, guardará os segredos dos infelizes, dos humilhados, dos
condenados, enfim, dos oprimidos. Conhecem-se durante um auto-de-fé, levado a
cabo pela Inquisição, o de 26 de Julho de 1711 e não mais deixam de se amar.
Vivem um amor sem regras, natural e instintivo, entregando-se a jogos eróticos.
A plenitude do amor é sentida no momento em que se amam e a procriação não é
sonho que os atormente como sucede com os reis.
Blimunda: com poderes que a tornavam
conhecedora dos outros nos seus bens e nos seus males, recusando-se, no entanto,
a olhar Baltasar por dentro. Vai ser ela quem, com Baltasar, guardará a
passarola quando o padre Bartolomeu vai para Espanha onde, afinal, acabará por
morrer. Ela e Baltasar sentir-se-ão obrigados a guardá-la como sua, quando,
após uma aventura voadora, conseguira aterrar na serra do Barregudo, não longe
de Monte Junto, perdido o rasto do padre que desaparecera como fumo. Quando
voltaram a Mafra, dois dias depois, todos achavam que tinha voado sobre as
obras da basílica o Espírito Santo e fizeram uma procissão de agradecimento.
Começaram a voltar ao local onde a passarola dormia para cuidar dela,
remendá-la, compô-la e limpá-la.
Um dia Baltasar foi verificar os efeitos do tempo
na passarola mas Blimunda não o acompanhou e ele não voltou. Procurou-o durante
9 anos, infeliz de saudade, na sua sétima passagem por Lisboa encontrou-o entre
os supliciados da Inquisição, a arder numa das fogueiras, disse-lhe
"Vem" e a vontade dele não subiu para as estrelas pois pertencia à
terra e a Blimunda.
Povo: todos os anónimos que construíram a
História são representados através daqueles a quem o autor dá nome: Alcino,
Brás, Nicanor, etc.
Padre Bartolomeu de Gusmão: tem por
alcunha O Voador, gosto pelas viagens, estrangeirado, a ciência era, para ele,
a preocupação verdadeiramente nobre. O rei mostra-se muito empenhado no
progresso do seu invento. A populaça troça dele, Baltasar e Blimunda serão
ouvintes atentos das suas histórias e sermões. A amizade destes dois seres,
simples, enigmáticos, mas verdadeiros protagonistas do Memorial, é tão valiosa
para o padre como necessária à representatividade da obra como símbolo de
solidariedade e beleza em dicotomia com egoísmo e poder.
Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu Lourenço
formam um trio que vai pôr em prática o sonho de voar. Assim, o trabalho físico
e artesanal, de Baltasar, liga-se à capacidade mágica de Blimunda e aos
conhecimentos científicos do padre. Todos partilham do entusiasmo na construção
da passarola, aos quais se junta um quarto elemento, o músico Domenico Scarlatti,
que passa a tocar enquanto os outros trabalham. O saber artístico junta-se aos
outros saberes e todos corporizam o sonho de voar.
Scarlatti: veio como professor do irmão de
D. João V, o infante D. António, passando depois a ser professor da infanta D.
Maria Bárbara. Exerceu as funções de mestre-de-capela e professor da casa real
de 1720 a 1729, tendo escrito inúmeras peças musicais durante esse tempo. No
contexto do romance, para além do seu contributo na construção da passarola é
determinante na cura da doença de Blimunda; durante uma semana tocou cravo para
ela, até ela ter forças para se levantar.
Crítica da guerra: absurda, sacrifica
homens em nome de um interesse que lhes é completamente estranho e abandona-os
à sua sorte quando doentes ou estropiados.
Narrador
Sentencia: segue ou inventa provérbios.
Dialoga: com o Narrador.
Manipula: as personagens.
Apaga-se: face às personagens.
Ironiza / Assume-se /Compromete-se.
Domina e Autolimita-se: face ao
conhecimento da história.
Profetiza.
Descreve: paisagens, situações, factos
acontecidos (e a acontecer).
Ele é:
- Antiépico;
- Histórico:
contrapõe-se ao discurso do poder que valoriza o empreendimento megalómano
do rei, um discurso que revela o absurdo das imposições reais, um discurso
dessacralizador do poder régio;
- Religioso:
o narrador incorpora referências religiosas, inclusivamente o texto
bíblico. A originalidade ressalta das marcas transgressoras do sagrado que
balançam entre o sagrado e o profano como um jogo a explorar e a partir do
qual se pretende tirar dividendos ideológicos;
- Cultural:
exploração da intertextualidade e da multiplicidade de discursos
referentes quer à História quer à ficção - referências a diversos outros
autores, Camões e Pessoa, por exemplo; recorrência aos jogos de palavras e
de conceitos identificadores do estilo da época a que o texto se reporta -
o estilo barroco.
Amor, Sexo, Casamento e Sonho
Relações amorosas
A Utopia do Amor
A Dimensão Simbólica das Personagens
Em Memorial do Convento há dois grupos
antagónicos de personagens: a classe opressora, representada pela aristocracia
e alto clero, e os oprimidos, o povo. No primeiro grupo destaca-se a actuação
do Rei, enquanto que no segundo, além de Baltasar e Blimunda, se integram o
padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, perseguido pela Inquisição, pela
modernidade do seu espírito científico, e Domenico Scarlatti que, pela
liberdade de espírito e pelo poder subversivo da sua música, é uma figura
incómoda para o Poder. É ainda importante referir que, em Memorial do Convento,
as personagens históricas convivem com as fictícias, conduzindo à fusão entre
realidade e ficção.
D. João V
Rei de Portugal de 1706 a 1750, desempenha o
papel de monarca de setecentos que quer deixar como marca do seu reinado uma
obra grandiosa e magnificente - o Convento de Mafra. Este é construído sob o
pretexto de que cumpre uma promessa feita ao clero, classe que
"santifica" e justifica o seu poder.
É símbolo do monarca absoluto, vaidoso,
megalómano, egocêntrico, e mantém com a rainha apenas uma relação de
"cumprimento do dever" e, em alguns momentos, pretende ser um déspota
esclarecido, à semelhança dos monarcas europeus da sua época (favorece, durante
algum tempo, o projecto do padre Bartolomeu de Gusmão e contrata Domenico
Scarlatti para ensinar música a sua filha, a infanta Maria Bárbara). Dado aos
prazeres da carne e a destemperos vários (teve muitos bastardos e a sua amante
favorita era a Madre Pauta do Convento de Odivelas). Sacrificou todos os homens
válidos e a riqueza do país na construção do convento.
Maria Ana Josefa
De origem austríaca, a rainha, surge como uma
pobre mulher cuja única missão é dar herdeiros ao rei para glória do reino e
alegria de todos. É símbolo do papel da mulher da época: submissa, simples
procriadora, objecto da vontade masculina.
Baltasar Sete-Sóis
Baltasar Mateus, de alcunha Sete-Sóis, deixa o
exército depois de ter ficado maneta em combate contra os espanhóis, conhece
Blimunda em Lisboa, e com ela partilha a vida e os sonhos. De ex-soldado passa
a açougueiro em Lisboa e, posteriormente, integra a legião de operários das
obras do convento. A sua tarefa máxima vai ser a construção da passarola,
idealizada pelo padre Bartolomeu de Gusmão, passando a ser o garante da
continuidade do projecto, quando o padre Bartolomeu desaparece em Espanha.
Baltasar acaba por se constituir como a personagem
principal do romance, sendo quase "divinizado" pela construção da
passarola: "maneta é Deus, e fez o universo. (...) Se Deus é maneta e fez
o universo, este homem sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar.
" (p. 69) - diz o padre Bartolomeu a propósito do seu companheiro de
sonhos. Após a morte do padre, Baltasar ocupa-se da passarola e, um dia, num
descuido, desaparece com ela nos céus. Só é reencontrado, nove anos depois, em
Lisboa, a ser queimado no último auto-de-fé realizado em Portugal.
O simbolismo desta personagem é evidente, a
começar pelo seu nome: sete é um número mágico, aponta para uma totalidade
(sete dias da criação do mundo, sete dias da semana, sete cores do arco-íris,
sete pecados mortais, sete virtudes); o Sol é o símbolo da vida, da força, do
poder do conhecimento, daí que a morte de Baltasar no fogo da Inquisição
signifique, também, o regresso às trevas, a negação do progresso. Baltasar
transcende, então, a imagem do povo oprimido e espezinhado, sendo o seu
percurso marcado por uma aura de magia, presente na relação amorosa com
Blimunda, na afinidade de "saberes" com o padre Bartolomeu e no
trabalho de construção da passarola.
Baltasar é uma das personagens mais bem
conseguidas de todo o romance porque descrever a ambição de um rei, as intrigas
duns frades e a loucura de um cientista é relativamente fácil, mas escolher uma
personagem do povo, maneta e vagabunda, que aparentemente não tem muito para
dizer e convertê-la no fio condutor da narrativa e no protagonista duma das mais
belas e sentidas histórias de amor, é algo que só conseguem autores como
Cervantes, que de um criado como Sancho Pança criou um arquétipo e um digno
"antagonista" de Dom Quixote.
Baltasar é um homem simples, elementar, fiel,
terno e maneta, que confina a capacidade de surpresa com a resignação típica
das pessoas humildes de coração e de condição. Aceita a vida que lhe foi dado
viver e a mulher que o destino lhe ofereceu, sem assombro nem protestos; acata
as suas circunstâncias e não tem medo nem do trabalho nem da morte. Não é um
herói nem um anti-herói, é simplesmente um homem.
Blimunda de Jesus
Blimunda de Jesus é "baptizada" de
Sete-Luas pelo padre Bartolomeu de Gusmão ("Tu és Sete-Sóis porque vês às
claras, (...) Blimunda, que até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou
sendo Sete-Luas, e bem baptizada estava, que o baptismo foi de padre, não
alcunha de qualquer um" - pág. 94).
Conhece Baltasar quando assiste à partida de sua
mãe, acusada de feitiçaria, para o degredo. Logo os dois se apaixonam, e este
amor puro e verdadeiro foge às convenções, subvertendo a moral tradicional e
entrando no domínio do maravilhoso - cf. primeira noite de amor (pp. 56-57).
Blimunda tem um dom: vê o interior das pessoas
quando está em jejum, herdou da mãe um "outro saber" e integra-se no
projecto da passarola, porque, para o engenho voar, era preciso
"prender" vontades, coisa que só Blimunda, com o seu poder mágico,
era capaz de fazer. Blimunda é, simultaneamente, uma personagem que releva o
domínio do maravilhoso, pelo dom que tem de ver "o interior" das
pessoas (poder que nunca exerce sobre Baltasar: "Nunca te olharei por
dentro" - p. 57), porque amar alguém é aceitá-lo sem reservas. Blimunda
encerra uma dimensão trágica na vivência da morte de Baltasar.
Simbolicamente, o nome da personagem acaba por
funcionar como uma espécie de reverso do de Baltasar. Para além da presença do
sete, Sol e Lua completam-se: são a luz e a sombra que compõem o dia - Baltasar
e Blimunda são, pelo amor que os une, um só. A relação entre os dois é também
subversiva, porque não existe casamento oficial e porque os dois têm os mesmos
direitos, facto inverosímil em pleno século XVIII.
Como outras personagens femininas de Saramago,
também Blimunda tem uma grande firmeza interior, uma forma de oferecer-se em
silêncio e de aceitar a vida e os seus desígnios sem orgulho nem submissão, com
a naturalidade de quem sabe onde está e para quê.
Glória Hervás Fernandez, in Uma leitura espanhola
de Memorial do Convento de José Saramago, in revista Palavras, n.º 21,
Primavera de 2002.
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
O padre Bartolomeu, personagem real da História,
forma com Baltasar e Blimunda o núcleo mágico e trágico do romance. Vive com
uma obsessão, construir a máquina de voar, o que o leva a encetar uma
investigação científica na Holanda. Como cientista ignora os fanatismos
religiosos da época e questiona todos os principias dogmáticos da Igreja. O seu
sonho de voar e as suas inabaláveis certezas científicas revelam orgulho,
"ambição de elevar-se um dia no ar, onde até agora só subiram Cristo, a
Virgem e alguns santos eleitos" e tornam-no persona non grata para a
Inquisição que o acusa de bruxaria, obrigando-o a fugir para Espanha e a deixar
o seu sonho/projecto nas mãos de Baltasar.
A sua obsessão de voar domina-o de tal forma, que
ele não se inibe de integrar no seu projecto um casal não abençoado pela Igreja
e de aceitar e usufruir das capacidades heréticas de Blimunda, que farão a
passarola voar. A passarola, símbolo da concretização do sonho de um visionário,
funciona de uma forma antagónica ao longo da narrativa: é ela que une Baltasar,
Blimunda e o padre Bartolomeu, mas também é ela que vai acabar por separá-los.
Domenico Scarlatti
Artista estrangeiro contratado por D. João V para
iniciar a infanta Maria Bárbara na arte musical. O poder curativo da sua música
liberta Blimunda da sua estranha doença, permitindo-lhe cumprir a sua tarefa
("Durante uma semana (...) o músico foi tocar duas, três horas, até que
Blimunda teve forças para levantar-se, sentava-se ao pé do Cravo, pálida ainda,
rodeada de música como se mergulhasse num profundo mar, (...) Depois, a saúde
voltou depressa" - pp. 191-2).
Scarlatti é cúmplice silencioso do projecto da
passarola ("Saiu o músico a visitar o convento e viu Blimunda, disfarçou
um, o outro disfarçou, que em Mafra não haveria morador que não estranhasse, e
(...) fizesse logo seus juízos muito duvidosos" p. 231).
É, ainda, Scarlatti que dá a notícia a Baltasar e
Blimunda da morte do padre Bartolomeu. A música do cravo de Scarlatti simboliza
o ultrapassar, por parte do homem, de uma materialidade excessiva, e o atingir
da plenitude da vida.
Bartolomeu de Gusmão, esse, aliado em diálogo
excepcional com o músico Scarlatti, o único que pode de raiz compreender as
suas congeminações aladas, representa a possibilidade de articulação entre a
cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o desejo
(...) São os caminhos da ficção os que mais justificadamente conduzem ao
encontro da verdade.
Maria Alzira Seixo, in O Essencial sobre José
Saramago, INCM.
Baltasar
Blimunda
Alguns intertextos do Memorial do Convento
A propósito da procissão do Corpo de Deus e da
preocupação do narrador com o vestuário, faz-se notar que "só os lírios do
campo não sabem fiar nem tecer e por isso estão nus", o que vem de
encontro ao Salmo bíblico: "Olhai os lírios do campo, não fiam nem
tecem...". Outra referência bíblica surge ainda aquando da decisão do Rei
de imprimir maior velocidade às obras do convento, marcando a data da sagração
da basílica coincidente com o seu aniversário. A ironia do narrador leva-o a
comparar a decisão do Rei com outras proclamações históricas, como "Pai,
nas tuas mãos entrego o meu espírito".
É também ainda a ironia do narrador que o faz
exclamar, perante, mais uma vez, as exigências do Rei quanto à data de sagração
do convento, "vós me direis qual é mais excelente, se ser do mundo rei, se
desta gente", invertendo completamente (...) a mensagem de Os Lusíadas, na
Dedicatória, de onde, com ligeira adaptação, este passo foi retirado. E que, se
em Os Lusíadas era a grandeza, a coragem e a determinação de um povo que
orgulhava e engrandecia o seu rei, aqui é justamente a capacidade de obedecer
sem limites e a subserviência total que elevam o rei a quem todas as vontades,
por mais inconcebíveis que sejam, são imediata e inquestionavelmente
satisfeitas.
Referências soltas a episódios de Os Lusíadas
também vão surgindo num ou noutro momento da narrativa, sobretudo quando se
trata de comparar a epopeia da descoberta do caminho marítimo para a índia com
a epopeia da viagem na passarola, também ela de descoberta, rumo à aventura e
ao desconhecido. Assim, toda a descrição da viagem de Lisboa a Mafra mantém
estreitas semelhanças com uma viagem marítima, estabelecendo o narrador
comparações várias como a que se segue, enumerando episódios da viagem que
marcam as dificuldades por que tiveram de passar os navegadores: "é como
se finalmente tivessem abandonado o porto e as suas amarras para ir descobrir
os caminhos ocultos, por isso se lhes aperta o coração tanto, quem sabe que
perigos os esperam, que adamastores, que fogos de santelmo, acaso se levantam
do mar, que ao longe se vê, trombas de água que vão sugar os ares e o tornam a
dar salgado".
Nova referência ao Adamastor surge já perto do
local onde vão aterrar e com o qual estiveram prestes a chocar e a
desfazerem-se: "Na frente deles ergue-se um vulto escuro, será o adamastor
desta viagem, montes que se erguem redondos da terra, ainda riscados de luz
vermelha na cumeada". Mas uma outra referência ao Adamastor também já
tinha sido feita no momento em que grandes ventos destroem a Igreja de madeira
que tinha sido especialmente construída para a cerimónia de sagração da
primeira pedra do Convento de Mafra. O narrador afirma que a grande tempestade
ocorrida "foi como o sopro gigantesco de Adamastor, se Adamastor soprou,
quando lhe dobravam o cabo dos seus e nossos trabalhos.
Também a descrição da "caça" aos homens
para trabalhar nas obras do convento de Mafra segue de muito perto o episódio
de Os Lusíadas das despedidas em Belém e da fala do Velho do Restelo. As
mulheres, ao verem os homens partir sob o jugo dos quadrilheiros, vão clamando,
qual em cabelo, "Ó doce e amado esposo e outra protestando, Ó filho, a
quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice
minha". E, face a esta cena, faz-se ouvir a voz da oposição a esta epopeia
que era a construção do convento: "Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei
infame, ó pátria sem justiça", para sempre silenciada por uma
"cacetada na cabeça" de um quadrilheiro, mostrando até que ponto a História
é circular e os seus episódios se repetem.
ANA MARGARIDA RAMOS, Memorial do Convento, da
leitura à análise (texto com supressões), Edições Asa.
Um estilo híbrido: a convergência do Património
Cultural
Registo de língua
Popular: "de boca à banda" (p.
27)
Familiar: "Meu querido filho, como
foi isso, quem te fez Isto..." (p. 106)
Cuidado: "não havendo portanto
mediano termo entre a papada pletórica e o pescoço engelhado, entre o nariz
rubicundo e o outro héctico" (p. 27).
Interacção com a literatura portuguesa
Quadras populares: "Aqui me traz
minha pena com bastante sobressalto, porque quer voar mais alto, a mais queda
se condena" (p. 104).
Contos tradicionais: "Era uma vez uma
rainha que vivia com o seu real marido em palácio..." (p. 260).
Luís de Camões, Os Lusíadas:
"O homem, bicho da terra" (p. 65).
Padre António Vieira, Sermão de Santo
António aos Peixes: "Estão parados diante do último pano da
história de Tobias, aquele onde o amargo fel do peixe restitui a vista ao cego,
A amargura é o olhar dos videntes, senhor Domenico Scarlatti,..." (p.
173).
Fernando Pessoa, Mensagem: "Em
seu trono entre o brilho das estrelas, com seu manto de noite. solidão, tem aos
seus pés o mar novo e as mortas eras, o único imperador que tem, deveras, o
globo mundo em sua mão, este tal foi o infante D. Henrique, consoante o louvará
o poeta por ora ainda não nascido... (p. 233).
Estilo barroco: "Parece apenas um
gracioso jogo de palavras, um brincar com os sentidos que elas têm, como nesta
época se usa, sem que extrema mente importe o entendimento ou propositadamente
o escurecendo." (p. 172).
Introdução do fantástico
"Entre S. Sebastião da Pedreira e a Ribeira
entrou Blimunda em trinta e duas casas, colheu vinte e quatro nuvens fechadas,
em seis doente já as não havia, talvez as tivessem perdido há muito tempo, e as
restantes duas estavam tão agarradas ao corpo que, provavelmente, só a morte as
seria capaz de arrancar de lá. Em cinco outras casas que visitou, já não havia
vontade nem alma, apenas o corpo morto, algumas lágrimas ou muito
alarido." (p. 186).
A música como metáfora da obra literária
"Se a música pode ser tão excelente mestra
de argumentação, quero já ser músico e não pregador. Fico obrigado pelo
cumprimento, mas quisera eu que a minha música fosse um dia capaz de expor,
contrapor e concluir como fazem sermão e discurso" (p. 168).
Do sonho à concretização
O paralelismo simbólico dos episódios iniciais e finais
Auto-de-fé de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de
Blimunda
|
As últimas páginas...
|
Auto-de-fé de Baltasar Sete-Sóis
|
Primeiro encontro entre Blimunda e Baltasar
|
- Blimunda "repetia um itinerário de há vinte e oito
anos".
- O rio como imagem da precariedade da vida. - Blimunda está em Lisboa pela sétima vez: encerramento de um ciclo de vida. |
Último encontro de Blimunda e Baltasar
|
- "Que nome é o seu, e o homem disse, naturalmente,
assim reconhecendo o direito de esta mulher lhe fazer perguntas".
|
- "Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão
esquerda".
|
|
Espaço - Rossio
|
Espaço - Rossio
|
|
- "O Rossio está cheio de povo".
|
- "Meteu-se pela Rua Nova dos Ferros, virou para a
direita na igreja de Nossa Senhora de Oliveira, em direcção ao Rossio"
|
|
Ambiente soturno:
|
Ambiente soturno:
|
|
- "sobre o Rossio caem as grandes sombras do convento
do Carmo;
- "e as pessoas voltarão às suas casas, refeitas na fé, levando agarrada à sola dos sapatos alguma fuligem, pegajosa poeiras de carnes negras, sangue acaso ainda viscoso se nas brasas não se evaporou". |
- "caminhava no meio de fantasmas, de neblinas que
eram gente";
- "Entre os mil cheiros fétidos da cidade, a aragem nocturna trouxe-lhe o da carne queimada". |
|
A multidão reúne-se
|
A multidão reúne-se
|
|
- "O Rossio está cheio de povo".
|
- "havia multidão em S. Domingos"
|
|
As condenações da Inquisição:
|
As condenações da Inquisição:
|
|
- condenação da mãe de Blimunda (ao degredo).
|
- condenação de António José da Silva, "autor de
comédias de bonifrates";
- condenação de Baltasar Sete-Sóis. |
|
Ritual de morte
|
||
Blimunda comunica enigmaticamente com a mãe
|
Blimunda que, no primeiro encontro com Baltasar,
prometera que nunca o veria por dentro, usa os seus dons nos momentos finais
da vida de Baltasar e vê uma nuvem fechada que está no centro do seu corpo -
RECOLHE A SUA VONTADE.
|
Blimunda comunica enigmaticamente com Baltasar
|
- "não fales, Blimunda, olha só com esses olhos que
tudo são capazes de ver;
- "adeus Blimunda que não te verei mais". |
- "Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade
de Baltasar Sete-Sóis".
|
In Interacções, 12.º ano
Elementos simbólicos
Sete
Para a cultura cristã, o algarismo 7 corresponde a:- Sete céus, sete sóis, sete
esferas da antiga astrologia hermética: Sol, Lua, Mercúrio, Marte, Vénus,
Júpiter e Saturno;
- Sete virtudes cristãs (as
teologais: fé, esperança e caridade; as cardeais: força, temperança,
justiça e prudência);
- Sete pecados capitais:
orgulho, preguiça, inveja, cólera, luxúria, gula e avareza;
- Sete sacramentos baptismo,
eucaristia, ordem, confirmação, casamento, penitência e extrema-unção;
- Sete dias da criação do
mundo narrados no Génesis;
- Sete tabernáculos e sete
trombetas de Jericó;
- No Apocalipse: sete
candelabros; sete estrelas; sete selos; sete cornos; sete pragas; sete
raios.
- Sete cores do arco-íris;
- Sete notas da escala
musical.
Sol
O Sol identifica-se com fonte de vida, com a
própria vida - o que faz corresponder Sete-Sóis a Sete Vidas, que, por sua vez,
significaria que Baltasar encarna simbolicamente a vida de todos os homens do
povo, sempre labutando e sempre perdendo o fruto do seu trabalho,
independentemente de épocas históricas e de regiões geográficas.
O Sol percorre um ciclo celeste diurno de Oriente
para Ocidente - assim Baltasar percorre, no interior da Passarola, um ciclo
entre Lisboa e Montejunto; e tal como o Sol, para nascer, segundo a antiga
mitologia, tem que vencer todos os dias todos os guardiães da noite/morte,
Assim Baltasar terá que vencer os guardiães da "noite histórica": a
Inquisição, a credulidade popular, as forças espirituais retrógradas da
Escolástica. E, assim como o Sol atravessa o céu, mas nele não se detém nem o
conquista definitivamente para si, Baltasar atravessa o céu, rompe os céus,
rasga a imagem pura de um céu morada de Deus. Neste aspecto, Baltasar, sob as
ordens científicas do padre Bartolomeu de Gusmão, assume o estatuto de herói
mítico que ousa desafiar a estabilidade aparentemente eterna da ideologia
cristã. E, para que o simbolismo clássico do herói maravilhoso e trágico que
ousa desafiar os deuses seja cumprido na totalidade, Baltasar morre pelo fogo,
como herético, o padre Bartolomeu de Gusmão morre louco, em Toledo, e Blimunda
vagueia pelo mundo sem destino.
Baltasar, Blimunda e o padre Bartotomeu de Gusmão
repetem o desejo de Faetonte, filho mortal de Apoio, que, querendo imitar o
pai, conseguiu deste a promessa de o deixar guiar o carro do Sol por um só dia.
Porém, Faetonte não conseguiu manobrar os cavalos e sustentar o carro do Sol na
abóbada celeste e o carro despenhou-se sobre a Terra, incendiando-a e matando o
jovem ousado. Do mesmo modo, o padre Bartolomeu de Gusmão e Baltasar morrerão
devido ao seu desejo de voar e Blimunda tornar-se-á em mulher errante.
Lua
Se o nome de Sete-Sóis torna esta personagem num
quase herói mítico, o nome de Blimunda de Jesus, Sete-Luas, faz de igual modo
repercutir ecos mítico-ancestrais. Antes de mais, o nome próprio, Blimunda,
deriva-nos de imediato para as narrativas baseadas na matéria da Bretanha e
para os ciclos celtas do rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. Porém, o
apelido Jesus integra desde logo estas possíveis derivações semânticas no
quadro do pensamento cristão.
Blimunda não é de origem Sete-Luas; é o padre
Bartolomeu de Gusmão que a crisma assim por ela ser companheira de Sete -Sóis:
"... o padre virou-se para ela, sorriu, olhou um e olhou outro, e
declarou: Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês
às escuras, e, assim, Blimunda, que até aí só se chamava, como sua mãe, de
Jesus, ficou sendo Sete-Luas, e bem baptizada estava, que o baptismo foi de
padre, não alcunha de qualquer um." (p. 94).
No romance, Sete-Luas só se compreende por
directa relação com Sete-Sóis e, de facto, a Lua, porque não tem luz própria, é
o princípio passivo do Sol. Porém, na intriga romanesca de Memorial do Convento,
o narrador histórico revoluciona este princípio simbólico da passividade
feminina e atribui a Blimunda capacidades intuitivas e ecovisionárias,
dependentes das fases da Lua, que a tornam, como elemento activo, tão
importante quanto Baltasar.
Blimunda não se compreende sem Baltasar, mas este
também não tem existência romanesca sem Blimunda, exactamente como o par
antitético mas intimamente complementar de dia-noite, claro-escuro, Sol-Lua;
porém, em Memorial do Convento existe uma substancial diferença: enquanto
mitológica e religiosamente a nossa civilização confere um peso ontológico
superior ao primeiro elemento dos pares antitéticos (o que se explica
naturalmente por os olhos humanos terem sido feitos para receber a luz e não a
escuridão), neste romance, Baltasar e Blimunda sofrem de igual nível de
protagonismo, nenhum deles sendo superior ao outro. Esta característica
subversiva do estatuto social feminino no século XVIII, estatuto então
perfeitamente passivo e submisso face ao poder masculino, é subsidiária do modo
de vida a dois do casal, sem casamento oficial e com igualdade de mando e
obediência entre ambos. Mas a Lua, devido às suas fases, que aliás condicionam
o poder de Blimunda, é também símbolo do ritmo biológico da Terra, é medida do
tempo, frutificadora da vida, guardadora da morte, dispensadora de geração. E é
deste modo que Blimunda, devido aos seus poderes, é aquela que acolhe as
vontades humanas dos moribundos, as junta nas duas esferas para com elas e com
estas gerar energia vital ("O ar que Deus respira") que, em conjunto
com âmbar e o íman, movem a Passarola. A junção das vontades humanas,
teorizadas pela nova ciência, que produzem mais força, mais vontade, tão imensa
que faz os Homens subirem aos céus, significa aqui, simbolicamente, a Primavera
mítica que arranca a Humanidade do dogma da religião, do terror inquisitorial e
da teologia supersticiosa, três símbolos que designam uma só realidade: a morte
humana, o pensamento falso e passivo, a vontade resignada que enquadrava o
Portugal da época.
Blimunda é a mulher liberta do futuro, que
trabalha ao lado do marido e em ele tudo vive e decide, é a nova mulher, é a
não-mulher coquete-objecto (de notar que nunca é descrito o corpo de Blimunda,
a não ser uma ligeira referência à sua altura e à sua magreza (p. 56), é aquela
em que, à imitação de Julieta, de Inês, de Isolda, de Heloísa, de Mariana
Alcoforado, o amor vence, e vence ao ponto de durante nove anos não desistir de
procurar o seu amado até que, encontrando-o, permite-se ficar deste "grávida"
espiritualmente, comungando em si a vontade de Baltasar.
A mãe da pedra
Uma outra situação-acontecimento de cariz mítico
em Memorial do Convento constitui-se com a gesta heróica, epopeica, do
transporte da pedra gigante de mármore, a mãe da pedra, de Pêro Pinheiro para
Mafra. Desde o início, a narração anormaliza as situações descritivas: o
tamanho gigantesco da pedra, o carro especialmente construído para o seu
transporte (uma "nau da Índia"), as duzentas juntas de bois e os
seiscentos homens necessários para o puxarem, os difíceis obstáculos do
caminho, à semelhança das narrativas de heróis clássicos, em que se anunciam os
"trabalhos" fabulosos que terão de ser contornados e o esforço
imperioso, mais do que humano, que terá de ser despendido.
In Interacções, 12.º ano
MEMORIAL DO CONVENTO
Planificação
Autor – O homem e a obra
Texto e paratexto: títulos,
dedicatória, epígrafes, contracapa /badana
Título: Memorial do Convento
|
|
Memória
O povo anónimo
Imortalização do herói
colectivo que a História silenciou (pp. 242/170 – Cap. XIX)
|
Mafra
D. João (1707- 1750), O Magnânimo
Rei de poder absoluto (Luís
XIV)
Megalómano, devoto e
devasso
|
Subtítulo: Romance
Ficção
Factos e personagens
ficcionais
|
Realidade
Factos e personagens
referenciais /reais
|
Verosimilhança
Metaficção historiográfica
História da História
Releitura dos acontecimentos
|
Contracapa: texto-síntese
Era uma vez: ficção
(maravilhoso, contos populares, fábulas,…)
Destacam-se 3 fios diegéticos
/ narrativos, que se entrelaçam por via da acção das personagens que intervêm
nas três acções:
- A construção do convento
- O amor entre Baltasar e Blimunda
- A construção da passarola voadora (Bartolomeu)
1.
Era uma vez um
rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra
Promessa do rei
|
I
|
11- 14
|
7-9
|
Escolha do local para o
convento
|
VIII
|
86
|
60
|
Inauguração da primeira
pedra (17/11/1717)
|
XII
|
130, 132-137
|
92-95
|
Descrição do estaleiro
“Ilha da Madeira”
|
XVII
|
213, 214 e 218
|
150
|
Transporte da pedra
|
XIX
|
241,2,5,257
|
169, 170, 172
|
Ampliação do convento
|
XXI
|
281-282
|
199
|
Esbanjamento
|
283
|
200
|
|
D. João tem medo de morrer
|
288
|
204
|
|
Marca-se a sagração do
convento 22/10/1730
|
290
|
206
|
|
Recrutamento forçado
|
291
|
206
|
|
“Praia das lágrimas”
|
293
|
207
|
|
Sagração do convento
|
XXIV
|
350
|
248
|
2.
Era uma vez um
soldado maneta e uma mulher que tinha poderes
Apresentação de Baltasar
|
IV
|
35-39
|
24-27
|
Apresentação de Blimunda,
filha de Sebastiana de Jesus, amiga de Bartolomeu
|
V
|
49-53
|
34-36
|
Encontro de Baltasar e
Blimunda
|
53
|
37
|
|
Retrato de Blimunda
|
54-55
|
38-39
|
|
União dos dois, por
Bartolomeu
|
56
|
39
|
|
B&B em S. Sebastião da
Pedreira
|
IX
|
87-88
|
61
|
B&B instalam-se em
Mafra, em casa dos pais
|
X
|
101
|
71
|
B&B voltam para Lisboa
|
|||
B&B de novo em Mafra
|
|||
Baltasar desaparece na
passarola
|
XXIII
|
335
|
|
Blimunda procura Baltasar e
mata o frade
|
XXIV
|
340-341
|
|
Blimunda procura Baltasar
durante 9 anos e encontra-o finalmente em Lisboa, num auto-de-fé, juntamente
com outros supliciados
|
XXV
|
353-355
|
251
|
O amor em Memorial
do Convento
D. João V + D. Maria Ana
Josefa
O real cobridor e a devota
parideira
|
Baltasar e Blimunda
Sete-Sóis e Sete-Luas
|
|
Adúltero
Devasso
Procura o amor carnal
(sexo) com as freiras de Odivelas
|
Não ama o rei
Muito devota
Sonha com o cunhado
|
Apaixonados
Encantados (olhos)
Fidelidade
|
Relações obrigatórias
Casamento por procuração
Cumprimento da função de
procriar
|
União abençoada por
Bartolomeu
|
|
Não amor
|
Amor eterno, espiritual,
verdadeiro
|
|
Era uma vez um padre que
queria voar e morreu doido
Apresentação do Pe
Bartolomeu, “o Voador”
|
VI
|
61
|
41
|
O sonho de voar é próprio do
homem
|
63
|
43
|
|
Bartolomeu é a chacota da
corte
|
64
|
43
|
|
Bartolomeu protegido do rei
|
65
|
44
|
|
Bartolomeu pede ajuda a
Baltasar
|
68
|
46
|
|
B&B em Lisboa para
construir a passarola
|
IX
|
87
|
61
|
Bartolomeu vai à Holanda à
procura do éter; B&B em Mafra
|
X
|
101
|
71
|
Bartolomeu regressa 3 anos
depois; B&B em Lisboa
|
XI
|
115
|
81
|
Blimunda recolhe as
vontades dos moribundos
|
XV
|
178
|
126
|
A passarola, fruto dos BBB,
está pronta a voar
|
XVI
|
191
|
134
|
Perseguição do Sto Ofício
|
193
|
136
|
|
Levantam voo, sobrevoam Lx
e Mafra e aterram em Monte Junto
|
195, 197, 201
|
||
O padre desaparece, depois
de tentar destruir a passarola
|
205-206
|
145
|
|
Domenico Scarlatti anuncia
a morte de Bartolomeu, em toledo
|
XVII
|
224
|