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Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.

Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,

Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Lendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...

À beira-rio,
À beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.

O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.

Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.

Colhamos flores.                            
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranqüilos, tendo                        
Nem o remorso
De ter vivido.
Ricardo Reis, in "Odes" 



“Mestre, são plácidas...”
     1-      Não nos devemos afastar totalmente da vida, as horas perdidas  vivendo nunca são verdadeiramente perdidas.
     2-      O sofrimento pode ser evitado.
     3-      Passar pela vida serenamente, assim não encontraremos obstáculos.
     4-      Reis escolhe o seu caminho. A Natureza é uma afirmação, uma escolha, não uma descoberta.
     5-      A Natureza passa pelo tempo e permanece igual; aceita o tempo e a mudança. Devemos aprender com ela.
6-  Estamos sujeitos à voragem da irreversibilidade do tempo. Resistir ao Fado é fraqueza e traz sofrimento;           


1.       Não nos devemos afastar totalmente da vida, as horas perdidas  vivendo nunca são verdadeiramente perdidas.                                                                            1ª estrofe
2.       O sofrimento pode ser evitado.                                                                     2ª estrofe
3.       Passar pela vida serenamente, assim não encontraremos obstáculos. 4ª estrofe
4.       Reis escolhe o seu caminho. A Natureza é uma afirmação, uma escolha, não uma descoberta.                                                                                                       7ª estrofe
5.       A Natureza passa pelo tempo e permanece igual; aceita o tempo e a mudança. Devemos aprender com ela.                                                                          3ª estrofe
6.       Estamos sujeitos à voragem da irreversibilidade do tempo. Resistir ao Fado é fraqueza e traz sofrimento;                                                5ª estrofe          6ª estrofe

Assunto
O sujeito poético dirige-se a Alberto Caeiro, em tom de cumplicidade.
Dirigindo-se a um “nós”, onde se inclui, apresenta conselhos e máximas que contêm ensinamentos de vida, regras de conduta.

As formas verbais no imperativo e/ou presente do conjuntivo encontram-se ao serviço  da expressão da sua filosofia de vida.

Tempo (caracterização)
·         Referência à figura mitológica de “Cronos”, o deus que devorava os filhos-o Tempo é definido como elemento aniquilador.

·         A consciência dessa inevitabilidade implica a aprendizagem da aceitação:
 saber resignar-se perante o devir da vida  (inscrição do tempo em nós), Envelhecemos.

Elementos simbólicos: flores, girassóis e rios
Relevam da “Natureza”, realidade com a qual o “nós” se identifica.
Flores : a caducidade, brevidade, vida perecível;
Girassóis : mudam de orientação, acompanham o movimento do Sol; representam a vida que se  rege
pela luz do Sol;
Rios : representam a passagem do TEMPO na sua irreversibilidade.

Vocabulário relativo à ideia de calma
 Os adjetivos [“plácidas” (v.1), “Tranquilos” (v. 14 e 16), “plácidos” (v.14) , “calmos” (v. 40)]
Nomes [“descanso” (v. 23), “Calma” (v. 42)] - calma e serenidade.
 Destacam a centralidade do tema do sossego absoluto, sem qualquer
Perturbação espiritual, ideal a atingir na vivência do Tempo.

 Filosofia de vida
·         Viver sem envolvimento afetivo com o presente e sem expectativas em relação ao
futuro, de forma a chegar à morte sem sobressalto e com o mínimo de sofrimento (“Não a viver”,
v. 12; “tendo / Nem o remorso / De ter vivido”, vv. 46-48).
·         Pretende “decorrer” a vida, isto é,  atingir a sensação elementar de existir,
aceitando voluntariamente o seu destino, aprendendo a viver em conformidade com as leis da
Natureza, o que implica aceitar, com  lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas; recusar
“tristezas” e “alegrias”, procurando a indiferença à dor, ao prazer, a qualquer sentimento excessivo.

MODALIDADE
Tipos de modalidade

1. modalidade apreciativa: exprime juízo valorativo, favorável ou negativo, opinião.
2. modalidade epistémica: domínio do cognitivo – indica o certo/incerto.
3. modalidade deôntica: domínio do dever, permitir -obrigatório/proibido.

Do ponto de vista linguístico, a modalidade é a gramaticalização de atitudes e opiniões dos falantes.

Expressão linguística da modalidade
  • verbos auxiliares modais como:  poder, haver dever, 
  • verbos :  permitir, obrigar; precisar de, ter de, 
  • verbos de opinião, crer, achar, considerar, saber,
  • advérbios (de frase) como:  possivelmente, necessariamente, provavelmente, 
  • advérbios/locuções adverbiais:  talvez, sem dúvida, para dizer a verdade,
  • adjetivos como:  possível,  provável,
  • expressões do tipo é possível, é preciso,
  • modos e tempos verbais: indicativo, conjuntivo, imperativo, futuro...
Vocabulário
·         Inanidade- qualidade daquilo que é vazio, oco, sem sentido; vaidade
·         Inutilidade-
·         vanidade- relativo a vão, inútil, insignificante, sem valor
·         efemeridade- transitoriedade, brevidade
·         fugacidade- que foge, passa velozmente
·         inexorabilidade- inevitabilidade, fatalidade
·         irreversibilidade- característica do que não volta atrás
·         implacabilidade- inexorabilidade
·         caducidade- precariedade, brevidade